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quinta-feira, 15 de setembro de 2011

“Aproveitar a vida” de Martha Medeiros

Odete Soares Rangel

Anos atrás recebi esse texto para analisar em sala de aula. Eu era ainda jovem, idealista, quase acreditava em conto de fadas.  Com ele eu aprendi que a vida não é um conto de fadas, mas podemos transformá-la numa realidade saborosa. Obrigada Marta Medeiros por me fazer despertar e deixar o imaginário para quem ainda tem muito tempo para sonhar. Parafraseando o parágrafo oitavo desta crônica, viajei pouco, tenho o meu Bulova, meu Fit  Honda, a bolsa Louis Vitton ainda comprarei, mas em passagens aéreas invisto sempre que possível, com ida e volta marcada, pois voltar para a casa é uma delícia.


Você vai casar? Tendo 21 anos apenas? Que é isso, aproveite a vida antes de se amarrar.

Filhos? Estando casados só há seis meses? Não podem estar falando sério. Aproveitem a vida enquanto é tempo!

Muito bem, e quem vai bancar estes benefícios? Ora, quem. Os próprios. Ele e ela. Os acionistas majoritários dessa empreitada. É o casal que define os prêmios.

Ou seja: parece que a vida é aproveitada apenas na juventude, depois disso é tédio na certa. Se levarmos em conta que “depois disso” dura a maior parte da nossa vida, dá pra calcular o tamanho da encrenca.

O que é aproveitar a vida? Namorar muita gente, viajar para diversos lugares, permitir-se algumas irresponsabilidades, correr riscos e chegar tarde em casa sem precisar dar satisfação pra ninguém. Se você também acha que isso é tudo, então pelo amor de Deus, não invente de casar antes dos 30 e ter filhos antes dos 35, porque senão o proveito vai realmente ficar reduzido.

Tenho claustrofobia, descobri isso não dentro de um elevador, mas dentro da vida mesmo: se ela fica muito asfixiante, passo mal. Por isso resolvi aproveita-la também depois de casada e depois de ter filhos, já que, para mim, aproveitar a vida tem um único significado: viver com liberdade. E casamento e filhos não aniquilam com isso. A única dificuldade é você encontrar alguém que compartilhe desse ponto de vista. Se encontrar, fica fácil.

Eu não preciso namorar trezentos, eu posso aproveitar a vida tendo um relacionamento forte, de parceria, cumplicidade, sem estresse, sem chiliques, sem ciumeira boba.

Viajar para diversos lugares depende mais de ter dinheiro do que ter filhos. Como acho que viajar é mais importante do que ter um Rolex, uma BMW ou uma bolsa Louis Vitton, é em passagens aéreas que invisto. De ida e volta, porque tenho que voltar, e filhos também é uma viagem e tanto.

Pequenas loucuras é coisa para solteiros. Grandes loucuras fazem os maduros. Casar não é um risco? E ser pai e mãe neste mundo maluco? É assim que aproveito a vida, me permitindo as emoções maiores, as mais intensas, as que duram para sempre.

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