Odete Soares Rangel
Este conto aborda os ofícios e aparelhos da escravidão narrando a história de um capturador de escravos que fazia isso para sobreviver, pois não se adaptava em qualquer outra função e passava por dificuldades financeiras.
Caçar escravos trouxe-lhe novos encantos, não precisava obrigar-se a nada, apenas usar habilidades das quais já era detentor.
O narrador dá uma série de informações históricas sobre a escravidão, com muitas fugas de escravos, situando o leitor no conto.
O conflito dá-se entre Candinho Neves – o caçador de escravos que precisava salvar seu filho e Arminda – escrava fugida de propriedade de um senhor de escravos, que acabou perdendo seu filho na luta pela fuga, devendo ser esse fato, a origem do título do conto.
Esse fato demonstra o caráter trágico do conto, assim como, que ele nasce da maldade dos indivíduos ou da estrutura escravocata brasileira. Nessa, os escravos não eram tratados como seres humanos, mas como propriedade de seus donos, servindo-os e sujeitando-se aos castigos e ao trabalho pesado, etc.
Dessa forma, não importava o sofrimento e a dor de Arminda, ainda que pedisse clemência em nome de seu filho que viria nascer. No momento em que ela aborta, seu dono está em desespero, mas pode-se depreender que tenha sido pela perda de um escravo (feto) e a possível morte de Arminda (escrava), e não por outro sentimento.
Candinho havia saído desesperado e sem esperança, para levar seu filho à roda dos enjeitados. Desorientado resolveu encurtar o trajeto, quando, então, deparou-se com a escrava, objeto de sua salvação.
Aí está uma peripécia que a vida lhe pregou, estava predestinado, desse desequilíbrio em que se encontrava, surge um equilíbrio com a recuperação da escrava, mas volta a desequilibrar-se novamente quando do aborto dessa.
O narrador é irônico ao descrever os fatos dizendo que “Eram muitos, e nem todos gostavam da escravidão”. Obviamente, os escravos que fugiam eram os que não gostavam de submeter-se a essa vida desumana e por isso enfrentavam o perigo da fuga.
"Além disso, o sentimento da propriedade moderava a ação, porque dinheiro também dói". Essa citação do livro fala do escravo que custava caro para seu dono. “Era grotesca tal máscara, mas a ordem social e humana nem sempre se alcança sem o grotesco, e alguma vez o cruel. Os funileiros as tinham penduradas, à venda, na porta das lojas. Mas não cuidemos de máscaras”.
Apesar de narrado em 3° pessoa, aqui está demonstrada a intromissão do autor com seu posicionamento. Por significar uma ação de manutenção da ordem, traduzia-se o ato de caçar escravos em nobreza, embora não fosse nobre.
“A obrigação, porém, de atender e servir a todos feria-o na corda do orgulho, e ao cabo de cinco ou seis semanas estava na rua por sua vontade”. Tal citação, expressa a insatisfação de Candinho com o cumprimento das normas que lhe são impostas “atender e servir a todos”.
E embora a necessidade de estabilidade numa sociedade tão desajustada, ele abandonou a profissão. Na sociedade não era muito diferente, as normas rígidas eram ditadas e as pessoas tinham de submeter-se a elas, embora contrárias à sua vontade.
"Nem todas as crianças vingam, bateu-lhe o coração". O que Candinho expressa aqui é uma justificativa para aliviar sua consciência pela morte do filho da escrava em detrimento de salvar a vida do seu próprio filho.
Os contos O Caso da Vara e Pai contra mãe têm em comum a escravidão, a luta pela sobrevivência. Numa sociedade tão injusta e tão desumana, para sobreviver qualquer atitude é válida, ainda que represente um mal para outrem. Damião no Caso da Vara como Candinho em Pai contra a mãe são os opressores. Damião para livrar-se do seminário alcança a vara para punir a negrinha. Candinho para livrar seu filho provoca a morte do filho da escrava.
O conto “ Pai contra a mãe” mostra-se contra a escravidão, pois leva o leitor a refletir como ela era ruim para a sociedade. O autor ironiza quando nos mostra a escravidão como natural, mas a considera desumana e absurda. Na verdade ele quer que o leitor volte-se contra a escravidão, Machado era contrário ao patriarcado e favorável ao trabalho livre. Nesse conto, verifica-se toda uma condição humana de vida, uma escala de valores sobre uma sociedade plana. A moral dele é ditada pela necessidade, a do dono pelo poder e pela propriedade, pois queria recuperar a escrava e pagava por isso. Candinho Neves de vítima da sociedade, passa a ser o opressor em relação a Arminda, assim como Damião em O Caso da Vara.
Machado denunciou a escravidão, utilizando-se da análise e da reflexão, destruindo a idéia da "bondade dos brancos" ao libertarem os negros. Nas crônicas, contos e romances procurou desvendar os mecanismos econômicos e ideológicos que tentavam justificar, primeiro, a necessidade do trabalho escravo e, depois, a contingência imperiosa da libertação.
No caso da escrava da história “Pai contra a mãe”, ela foi criada pela natureza que assiste seu sofrimento, e pelo que vimos, só cessará quando ela morrer. Machado faz uma crítica social, assumindo uma fina ironia quando focaliza questões delicadas como o casamento, o adultério e a exploração do homem pelo próprio homem. Ele não hesita em mostrar a sua descrença nas aparências e a sua busca do que atrás delas se oculta.