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quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Aquilo por que lutei

Odete Soares Rangel


Três objetivos, audaciosos, fortes, o último deles não tão bem definido dirigem minha trajetória de vida: O anseio de ser independente, de ter um grande amor e de ser uma pessoa famosa. Tais objetivos, como grandes vendavais, impelem-me para a terra e para o céu, em curso instável, num mar de muitos questionamentos e poucas certezas.

Iniciei pela conquista da independência – porque esta me proporcionaria liberdade de ação e movimento, o que para mim, é símbolo de felicidade. Ambicionava-a, ainda, porque eu queria adquirir coisas que me trouxessem conforto, bem-estar, prazer e um futuro tranquilo: Casa, carro, viagens,aposentadoria, etc...

Depois, caminhei em direção ao grande amor, aquele que, na minha imaginação, nos faz perder a razão, flutuar, sonhar, delirar. Com ele, somos felizes: rimos e choramos sem motivo. Insistia em encontrá-lo porque me libertaria da solidão do coração – sensação essa que não tem limites e invade todo nosso ser e nossos espaços, se apossando dos nossos sentimentos mais íntimos e tornando-os mais cruéis e nós mais sofredores. Ambicionava-o porque vislumbrava nele, a renovação infinita da alegria no coração a cada minuto. Era como se minhas células se oxigenassem de ar rarefeito, como se um imenso mar se postasse a minha frente e me levasse para uma ilha deserta, paradisíaca e na entrada estivesse escrito em letras bem grandes “amor aqui é o nosso paraíso”.

Com menos ímpeto e certeza, dirigi-me para a fama. Eu queria ter habilidades em artes – ser cantora, jornalista, escritora famosa ou qualquer outra profissão que me fizesse sentir útil às pessoas, e em contrapartida, ser reconhecida por elas. Nos dois primeiros objetivos fui mais feliz, no terceiro muito consegui, mas sinto falta de algo maior. Tive momentos de sucesso profissional, quebrei alguns tabus, conquistei espaços até então não ocupados por mulheres na empresa em que atuei durante 2o anos: Fui a primeira Inspetora e Chefe de Divisão de um Departamento de Auditoria em seus 62 anos de existência, postos até então privativo dos homens. No ano anterior à minha aposentadoria, fui agraciada com o título de funcionária destaque desse mesmo departamento – única mulher chefe a conquistá-lo até então.

Independência e amor até onde vejo possível, conduzem para o pico mais alto, mesclado com um cheiro de natureza e aromas francesas, resultando num sabor de vencer. Mas a fama me trás de volta as origens e as habilidades inatas ao ser humano – as quais não devo possuí-las. Escrever até escrevi muitas poesias – se é que estes hieróglifos assim podem ser chamados – pois talvez tenham algum valor ou quem sabe nenhum. A bem da verdade, estas, apenas retrataram com muita singeleza, meus sentimentos tal qual estavam sendo vivenciados no momento dessas criações.

Ecos de gritos de angústia penetram em minha mente.Tornei-me vítima de mim mesma, da minha própria inabilidade, insegurança...perambulei em vão buscando oportunidades para a fama. Que ironia! Acho que já nasci querendo ser uma pessoa famosa, é tão importante para mim, para outros fama significa tão pouco: Por comida na mesa, ter emprego, etc...

Não posso solucionar as questões da humanidade, mas tentarei resolver as minhas.Talvez devesse começar definido com clareza quem sou, onde estou , o que busco e a que vim?

Eis o que tem sido minha regrada vida! Se eu puder recomeçar, farei tudo diferente. Apenas não deixaria a incerteza e insegurança me pescar. Lutaria, desde cedo,  para percorrer um único caminho que me levasse ao encontro da liberdade, da felicidade, dos bem definidos objetivos.

No 1° parágrafo, o tema é apresentado:  Os três objetivos pelos quais tenho lutado - o anseio das conquistas da independência, de um grande amor e de ser uma pessoa famosa.

No 2° parágrafo, justifico o porque da independência em primeiro lugar - porque me considerava apta a obtê-la, e esta me proporcionaria liberdade de ação.

No 3° parágrafo, justifico porque a conquista de um grande amor.

No 4° parágrafo, justifico a busca da fama para falar dos meus próprios sentimentos e consequentemente objetivos, ainda, não atingidos.

No 5° parágrafo, concluo o assunto, dizendo porque tenho lutado e a possível razão de não ter tido pleno êxito.

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Eu sei, mas não devia - Marina Colasanti

Odete Soares Rangel

pt.photaki.com
Marina Colasanti nasceu em Asmara na Eritreia, morou 11 anos na Itália e depois mudou-se para o Brasil.  Entre suas obras publicadas, encontram-se contos, crônicas, poemas e histórias infantis. O texto Eu sei, mas não devia pode ser considerado uma representação das questões sociais do nosso país, as quais o brasileiro se acostuma, ele age, mas não reage. E de tanto se acostumar,  vai matando os seus sonhos, a si próprio. Pense nisso e mude!

"Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.

A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E, porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.

A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar o café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.

A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E, aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E, aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E, não acreditando nas negociações de paz, aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.

A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.

A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagar mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.

A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes. A abrir as revistas e ver anúncios. A ligar a televisão e assistir a comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.

A gente se acostuma à poluição. Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às bactérias da água potável. À contaminação da água do mar. À lenta morte dos rios. Se acostuma a não ouvir passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta.

A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente molha só os pés e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.

A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se de faca e baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma".

Fonte: Livro "Eu sei, mas não devia", Editora Rocco - Rio de Janeiro, 1996, pág. 09.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Os 10 piores alimentos para sua saúde, elimine-os já!

Odete Soares Rangel


Você se preocupa com sua saúde e com os alimentos que consome? Então preste atenção no artigo que vai ler, ele tem dicas importantes dadas por quem entende do assunto, a nutricionista Michelle Schoffro Cook. Ela lista os 10 piores alimentos para sua saúde.

Recebi a matéria por e-mail pedindo a divulgação, mas sempre confirmo a fonte antes de publicar. Encontrei a matéria neste site, você pode clicar no link e ler o artigo http://entretenimento.r7.com/receitas-e-dietas/fotos/nutricionista-lista-10-piores-alimentos-para-seu-corpo-20110411.htm.

Boa leitura e conscientização sobre o que eliminar da sua alimentação, para aumentar sua expectativa média de vida!

"10º lugar: Sorvete
Apesar de existirem versões mais saudáveis que os tradicionais sorvetes industrializados, a nutricionista adverte que esse alimento geralmente possui altos níveis de açúcar e gorduras trans, além de corantes e saborizantes artificiais, muitos dos quais possuem neurotoxinas – substâncias químicas que podem causar danos no cérebro e no sistema nervoso.

9º lugar: Salgadinho de milho
De acordo com Michelle, desde o surgimento dos alimentos transgênicos a maior parte do milho que comemos é um “Frankenfood”, ou “comida Frankenstein”. Ela aponta que esse alimento por causar flutuação dos níveis de açúcar no sangue, levando a mudanças no humor, ganho de peso, irritabilidade, entre outros sintomas. Além disso, a maior parte desses salgadinhos é frita em óleo, que vira ranço e está ligado a processos inflamatórios.

8º lugar: Pizza
Michelle destaca que nem todas as pizzas são ruins para a saúde, mas a maioria das que são vendidas congeladas em supermercados está cheia de condicionadores de massa artificiais e conservantes. Feitas farinha branca, essas pizzas são absorvidas pelo organismo e transformadas em açúcar puro, causando aumento de peso e desequilíbrio dos níveis de glicose no sangue.

7º lugar: Batata frita
Batatas fritas contêm não apenas gorduras trans, que já foram relacionadas a uma longa lista de doenças, como também uma das mais potentes substâncias cancerígenas presentes em alimentos: a acrilamida, que é formada quando batatas brancas são aquecidas em altas temperaturas. Além disso, a maioria dos óleos utilizados para fritar as batatas se torna rançosa na presença do oxigênio ou em altas temperaturas, gerando alimentos que podem causar inflamações no corpo e agravar problemas cardíacos, câncer e artrite.

6 lugar: Salgadinhos de batata
Além de causarem todos os danos das batatas fritas comuns e não trazerem nenhum benefício nutricional, esses salgadinhos contêm níveis mais altos de acrilamida, que também é cancerígena.

5º lugar: Bacon
Segundo a nutricionista, o consumo diário de carnes processadas, como bacon, pode aumentar o risco de doenças cardíacas em 42% e de diabetes em 19%. Um estudo da Universidade de Columbia descobriu ainda que comer 14 porções de bacon por mês pode danificar a função pulmonar e aumentar o risco de doenças ligadas ao órgão.

4º lugar: Cachorro-quente
Michelle cita um estudo da Universidade do Havaí, que mostrou que o consumo de cachorros-quentes e outras carnes processadas pode aumentar o risco de câncer de pâncreas em 67%. Um ingrediente encontrado tanto no cachorro-quente quanto no bacon é o nitrito de sódio, uma substância cancerígena relacionada a doenças como leucemia em crianças e tumores cerebrais em bebes. Outros estudos apontam que a substância pode desencadear câncer colorretal.

3º lugar: Donuts (Rosquinhas)
Entre 35% e 40% da composição dos donuts é de gorduras trans, “o pior tipo de gordura que você pode ingerir”, alerta a nutricionista. Essa substância está relacionada a doenças cardíacas e cerebrais, além de câncer. Para completar, esses alimentos são repletos de açúcar, condicionadores de massa artificiais e aditivos alimentares, e contém, em média, 300 calorias cada.

2º lugar: Refrigerante
Michelle conta que, de acordo com uma pesquisa do Dr. Joseph Mercola, “uma lata de refrigerante possui em média 10 colheres de chá de açúcar, 150 calorias, entre 30 e 55 mg de cafeína, além de estar repleta de corantes artificiais e sulfitos”. “Somente isso já deveria fazer você repensar seu consumo de refrigerantes”, diz a nutricionista.

Além disso, essa bebida é extremamente ácida, sendo necessários 30 copos de água para neutralizar essa acidez, que pode ser muito perigosa para os rins. Para completar, ela informa que os ossos funcionam como uma reserva de minerais, como o cálcio, que são despejados no sangue para ajudar a neutralizar a acidez causada pelo refrigerante, enfraquecendo os ossos e podendo levar a doenças como osteoporose, obesidade, cáries e doenças cardíacas.

1º lugar: Refrigerante Diet
“Refrigerante Diet é a minha escolha para o Pior Alimento de Todos os Tempos”, diz Michelle. Segundo a nutricionista, além de possuir todos os problemas dos refrigerantes tradicionais, as versões diet contêm aspartame, que agora é chamado de AminoSweet. De acordo com uma pesquisa de Lynne Melcombe, essa substância está relacionada a uma lista de doenças, como ataques de ansiedade, compulsão alimentar e por açúcar, defeitos de nascimento, cegueira, tumores cerebrais, dor torácica, depressão, tonturas, epilepsia, fadiga, dores de cabeça e enxaquecas, perda auditiva, palpitações cardíacas, hiperatividade, insônia, dor nas articulações, dificuldade de aprendizagem, TPM, cãibras musculares, problemas reprodutivos e até mesmo a morte.

“Os efeitos do aspartame podem ser confundidos com a doença de Alzheimer, síndrome de fadiga crônica, epilepsia, vírus de Epstein-Barr, doença de Huntington, hipotireoidismo, doença de Lou Gehrig, síndrome de Lyme, doença de Ménière, esclerose múltipla, e pós-pólio. É por isso que eu dou ao Refrigerante Diet o prêmio de Pior Alimento de Todos os Tempos”, conclui."

domingo, 28 de agosto de 2011

“Confidência do Itabirano” de Carlos Drumond de Andrade

Odete Soares Rangel
Alunosweb.com
Alguns anos vivi em Itabira.
Principalmente nasci em Itabira.
Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro.
Noventa por cento de ferro nas calçadas.
Oitenta por cento de ferro nas almas.
E esse alheamento do que na vida é porosidade e comunicação.

A vontade de amar, que me paralisa o trabalho,
vem de Itabira, de suas noites brancas, sem mulheres e        sem horizontes
E o hábito de sofrer, que tanto me diverte,
                                                   é doce herança itabirana.

De Itabira trouxe prendas diversas que ora te ofereço:
este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval;
este couro de anta, estendido no sofá da sala de visitas;
este orgulho, esta cabeça baixa...

Tive ouro, tive gado, tive fazendas.
Hoje sou funcionário público.
Itabira é apenas uma fotografia na parede.
Mas como dói!

Itabira é uma palavra indígena que quer dizer “pedra que brilha”. Itabira é um brilho agudo na memória do poeta. No espelho temporal da prosa e da poesia drumondiana, Itabira sempre ressurge, é a miragem do que ficou perdido na infância.

O poema começa com a nostalgia do poeta em relação ao seu local de nascimento, traçado em quatro belas, mas sofredoras estrofes. Eis a origem do seu poema autobiográfico em que ele fala da sua terra natal: Itabira.

Na frase “Noventa por cento de ferro nas calçadas” pode-se compreender como sendo o ferro do mineral que existia em abundância em Itabira; já em “Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro/Oitenta por cento de ferro nas almas” indicam temperamento, alguém muito rigoroso.

“De Itabira trouxe prendas diversas que ora te ofereço:” As prendas tanto podem significar o aspecto cultural o “São Benedito”, o “couro da anta”; quanto o aspecto existencial (o orgulho, a cabeça baixa).

“Tive ouro, tive gado, tive fazendas./Hoje sou funcionário público. Podemos inferir que ele foi uma pessoa rica e poderosa para quem outras pessoas trabalharam. Depois há uma inversão. Ele decai, passa a ser funcionário público e a trabalhar para o povo.

“Itabira é apenas uma fotografia na parede.” Ali imobilizada ela está intocável, se perdeu no tempo ou teria se mitificado “...como dói!”. Por certo foi doloroso abandoná-la, ela era sua história de vida. Lembremo-nos que ele após o incidente com o professor de português, mudou-se para Belo Horizonte com a família. De Itabira, vem a explicação de Drummond viver de “cabeça baixa” (estrofe 3, verso 6). Afinal, apesar das negatividades, o poeta sente uma incomensurável saudade de sua cidade natal.

Quer parecer que o minério que enriqueceu a cidade, embruteceu o homem, transformando-o num homem de ferro.

Também que lhe pesava a solidão, não tinha a quem amar, seu único divertimento era sofrer, mas era um doce sofrer porque lhe era imputado pela cidade que ele amava. Na estrofe 3, confessa que aprendeu a sofrer por causa de Itabira; mas, paradoxalmente: “A vontade de amar (...) vem de Itabira”. Parece válido dizer que o amor nasce e é servido no sofrimento.

Nesse auto-retrato evidenciam-se alguns traços da personalidade do poeta. Parece haver uma desesperança, o eu lírico se contém, fica indiferente e se resigna com o que lhe oferece a cidade, manifesta-se explosivo na última estrofe do poema.

sábado, 27 de agosto de 2011

“O sentimento do mundo” de Carlos Drumond de Andrade

Odete Soares Rangel

“O sentimento do mundo”
Tenho apenas duas mãos
e o sentimento do mundo,
mas estou cheio de escravos,
minhas lembranças escorrem
e o corpo transige
na confluência do amor.

Quando me levantar, o céu
estará morto e saqueado,
eu mesmo estarei morto
morto meu desejo, morto
o pântano sem acordes.

Os camaradas não disseram
que havia uma guerra
e era necessário
trazer fogo e alimento.
Sinto-me disperso,
anterior a fronteiras,
humildemente vos peço
que me perdoeis.

Quando os corpos passarem,
eu ficarei sozinho
desfiando a recordação
do sineiro, da viúva e do microscopista
que habitavam a barraca
e não foram encontrados
ao amanhecer.

esse amanhecer
mais noite que a noite. (escuridão) 
alunosweb.com

Este poema abre a fase social do poeta e dá título ao livro. “Sentimento do Mundo” é um livro que retrata um tempo de guerras, de pessimismo e sobretudo, de dúvidas sobre o poder de destruição do homem. O livro foi publicado em 1940, em tiragem de 150 exemplares, distribuídos entre os amigos. O título do poema é ambíguo, tanto pode significar o sentimento que o mundo tem, quanto o sentimento que o indivíduo tem do mundo.

Nele, está revelada a visão-de-mundo do poeta, na qual está presente a realidade dura e desafiante que sempre nos estarrece, apesar dos nossos sonhos.

Na 1ª estrofe, percebe-se a limitação do poeta para ver o mundo: “Tenho apenas duas mãos”; mas logo a seguir ele apresenta elementos que o auxiliarão a suprir suas deficiências de visão: “escravos/lembranças” e o mistério do amor (Versos 3 à 5). Os escravos podem ser os meios escusos de que os poderosos se utilizam para tocar a vida e dela tirar vantagens.

A marca do pessimismo está nas mortes do céu e do próprio poeta, na estrofe 2. Apesar da ajuda parcial dos companheiros de vida “Camaradas”, o poeta não consegue decifrar os códigos existenciais e humildemente pede perdão.

Nas duas últimas estrofes, têm-se uma visão de futuro bem negativa, embora real: mortos, lembranças, pessoas que sumiram nas batalhas da vida, conforme a citação “guerra”, na estrofe 3.

O eu é menor que o mundo, desabrocha o sentimento do mundo, marcado pela solidão, pela impotência do homem, diante de um mundo frio e mecânico, que o reduz a objeto.

Na última estrofe, composta de dois versos, o poeta sintetiza seu sentimento do mundo. Conclui que o futuro “amanhecer” é negro, tenebroso.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Vila Rica e Violões que choram entrelaçados

Odete Soares Rangel

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Vila Rica - Olavo Bilac  (Parnasianismo) 

O ouro fulvo do ocaso as velhas casas cobre;
Sangram, em laivos de ouro, as minas, que a ambição
Na torturada entranha abriu da terra nobre:
E cada cicatriz brilha como um brasão.

O ângelus plange ao longe em doloroso dobre.
O último ouro do sol morre na cerração.
E, austero, amortalhando a urbe gloriosa e pobre,
O crepúsculo cai como uma extrema unção.

Agora, para além do cerro, o céu parece
Feito de um ouro ancião que o tempo enegreceu...
A neblina, roçando o chão, cicia, em prece,

Como uma procissão espectral que se move…
Dobra o sino… Soluça um verso de Dirceu…
Sobre a triste Ouro Preto o ouro dos astros chove.





A Vila Rica do século XVIII, era a antiga denominação da cidade de Ouro Preto, cujo desenvolvimento deveu-se à mineração, principalmente em torno das igrejas e confrarias. A corrida pelo ouro provocou um aumento populacional, inclusive com a afluência de artistas e artesãos europeus contratados para construir monumentos, especialmente igrejas, que marcavam  o súbito enriquecimento.

Na 1° estrofe do soneto, significa que o ouro encontrado era fruto do acaso, pois muitos o procuravam e não tinham a sorte de encontrá-lo. Nesse passado distante o ouro foi tão abundante, que foi amplamente utilizado, inclusive, para adorno de casas e igrejas, cuja ornamentação relembra o fausto religioso da opulenta Vila Rica.

O poeta faz uma analogia com o corpo, pois este é que sangra, vê a terra também ferida pela extração do ouro. A ambição das pessoas pelo ouro era desmedida, não se preocupavam com as consequências ao extraí-lo, sendo, provavelmente, a causadora da decadência da cidade.

A extração do ouro deixou marcas na terra, como por exemplo, a erosão, a contaminação com o mercúrio que ficaram como cicatrizes. Por outro lado, cicatriz também pode ser identificada com a perda das riquezas, do poder de dominação, que empobreceram a cidade, mas não destruíram sua essência, seu glamour. A cidade aconteceu, seu tempo de brilho não se apaga, ficou na história e na memória das pessoas. O passado deve ficar emoldurado para sempre.

A 2° estrofe denota o choro do povo mais simples (da periferia) que se torna mais doloroso ao entardecer em virtude do término da extração do ouro, quando a cidade entra em declínio, possivelmente porque seria nesse horário que os trabalhadores voltavam das minas, o que não mais acontece.

Com o dia se vai a glória do ouro, o passado; e com a noite que chega, a cidade se sente pobre, porém gloriosa por não ter perdido sua essência. Esse dia e noite podem estar relacionados com o fato de “Vila Rica” transformar-se em “Ouro Preto” do dia para a noite ou vice-versa.

O poeta traça um paralelo do ouro com o sol; do declínio da cidade com o crepúsculo, a cidade vivia da extração do ouro, sem ele as pessoas não teriam como sobreviver. 

Se percebe a sonoridade do poema no badalar do sino sugerido pelos sons nasais e pelo “g” na 2° estrofe, no 1° verso. A luz do sol e do ouro das minas, do negro da noite do passado e do próprio nome da cidade deixam implícita a ideia cromática do ouro. 

A 3° estrofe sugere um céu enegrecido, como um ouro que envelheceu e o tempo retirou-lhe o brilho. O ouro, a riqueza se foi, mas “Vila Rica” fica na história.


Há um contraste entre as ideias de:

Dia X noite 
Riqueza X pobreza
Passado glorioso X presente humilde
Ouro preto X ouro dos astros

Violões que Choram  - Cruz e Souza (Simbolismo) 

"Ah! plangentes violões dormente, mornos,
Soluços ao luar, choros ao vento...
Tristes perfis, os mais vagos contornos,
Bocas murmurejantes de lamento.

Noites de além, remotas, que eu recordo,
Noites de solidão, noites remotas
que nos azuis da Fantasia bordo,
Vou constelando de visões ignotas.

Sutis palpitações à luz da lua,
Anseio dos momentos mais saudosos
Quando lá choram na deserta rua
As cordas vivas dos violões chorosos.

Quando os sons dos violões vão soluçando,
Quando os sons dos violões nas cordas gemem,
E vão dilacerando e deliciando,
Rasgando as almas que nas sombras tremem.

Harmonias que pungem, que laceram,
Dedos nervosos e ágeis que percorrem
Cordas e um mundo de dolências geram
Gemidos, prantos, que no espaço morrem...

E sons soturnos, suspiradas mágoas,
Mágoas amargas e melancolias,
No sussurro monótono das águas,
Noturnamente, entre ramagens frias.

Vozes veladas, veludosas vozes,
Volúpias dos violões, vozes veladas,
Vagam nos velhos vórtices velozes
Dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas.

Tudo nas cordas dos violões ecoa
E vibra e se contorce no ar, convulso...
Tudo na noite, tudo clama e voa
Sob a febril agitação de um pulso.

Que esses violões nevoentos e tristonhos
São ilhas de degredo atroz, funéreo,
Para onde vão, fatigadas do sonho,
Almas que se abismaram no mistério.

[...]"

A forma encontrada pelos simbolistas de suspender a dor era a música. Daí sua tentativa de produzir textos tão melodiosos e ritmados, devendo-se atentar para a musicalidade das palavras e construções, nos poemas.

Embora, inicialmente, Cruz e Souza estivesse preso a um subjetivismo expressando a sua dor e sofrimento de homem negro, sua obra evoluiu para posições universalizantes ao sintonizar-se com a dor e a angústia do ser humano que atinge todos os seres. Muitos autores consideram-no um perfeccionista da forma. Ele foi um simbolista que explorou o poder dos símbolos, a força das analogias, as sugestões consideráveis que pudessem conduzi-lo além.

Violões que choram é um dos poemas mais bem elaborados desse autor. Interessante é a forma como ele nos conduz a outros elementos através dos violões. Atuando numa esfera de sentimentos abstratos e sensações contínuas, ele compõe um universo de imagens poéticas em sequência, que parecem acompanhar o ritmo de violão que toca.

Ele tinha o poder de dizer a palavra "violão", de tal maneira que levava o indivíduo a pensar só no objeto, situando-se no âmbito da prosa. Quando se pronuncia a palavra de forma que venha a suscitar imagens, cintilando evocações, associando estados de alma, ela ultrapassa a objetividade da expressão em prosa e alcança o clima poético, cuja transfiguração vemos nas estrofes a seguir do poema “Violões que choram”.

“Ah! Plangentes violões dormentes, mornos, (música/alegria, objeto sem brilho, tristonho)
soluços ao luar, choros ao vento... (sofrimento/choro)
Tristes perfis, os mais vagos contornos, (tristeza/sofrimento)
bocas murmurejantes de lamento, (sofrimento/queixas)

Noites de além, remotas, que eu recordo. (intermináveis)
Noites de solidão, noites remotas (isolamento)
que nos azuis da Fantasia bordo, 
vou constelando de visões ignotas.

Sutis palpitações à luz da lua,
anseio dos momentos mais saudosos, (saudades/ansiedade)
quando lá choram na deserta rua (notas musicais/sofrimento/isolamento)
as cordas dos violões chorosos”. (música/alegria/tristeza)

As palavras acima sublinhadas possuem conotações associativas com as palavras citadas entre parênteses. O autor propõe uma poesia que é ao mesmo tempo afetuosa e triste, um "sol pagão", cantado por "violões que choram”, uma poesia híbrida, indefinida, como ele próprio.

"Que esses violões nevoentos e tristonhos
são ilhas de degredo atroz, funéreo,
para onde vão, fatigadas do sonho,
almas que se abismaram no mistério".

“Demoram e são longas as chorosas evocações dos Violões abismados no mistério das horas, das noites compridas de meditação, inesgotáveis são, como as distâncias, as profundezas e as alturas da metafísica interminável. Porque os temas indefinidos não se esgotam, os Violões do poeta continuam plangendo, sem poder terminar, em versos inúmeros”. (Enciclopédia simpozio, Versão portuguesa da original em Esperanto/Internet).

 “Violões que Choram é um dos poemas de maior musicalidade que a arte poética já produziu. Trata-se de verdadeira sinfonia de fertilíssima imaginação, com variações quase infinitas. Entretanto, da harmoniosa musicalidade de suas aliterações e modulações vocálicas, emerge uma trágica sensualidade, que se denuncia nas "harmonias que pungem, que laceram", nos sons dos violões" que "vão dilacerando e deliciando", no "concerto de lágrimas sonoras", despertando os "anelos sexuais de monjas belas / ciliciadas carnes tentadoras" e "fazendo ressoar "toda a mórbida música plebeia / de requebros de faunos e ondas lascivas". (Enciclopédia simpozio, Versão portuguesa da original em Esperanto/Internet).

As interpretações feitas nos dois parágrafos precedentes fazem juz ao poema composto de 36 estrofes, de quatro versos decassílabos. A intenção não é esgotar o assunto, mas comentar as partes julgadas mais relevantes.

Na  5ª estrofe, as palavras iniciais de todos os versos têm uma correlação entre si, pois a música necessita de harmonia. No caso do violão também pelo uso dos dedos, das cordas e conclui com os gemidos que nada mais são do que o próprio som das notas musicais que se transformam em canção e encantam e sensibilizam os seres mais sonhadores e apaixonados.

O poema possui uma linguagem vaga, fluída, imprecisa. Na 1ª e 2ª estrofes, existem versos com algo vago, indefinido como nas frases “Tristes perfis, os mais vagos contornos”, “noites remotas que nos azuis da Fantasia bordo”.

Na construção do poema, o poeta utilizou os substantivos “soluços, perfis, contornos, solidão, Fantasia, visões”. Também os adjetivos no plural “plangentes, dormentes, mornos, tristes, vagos, murmurejantes, remotas, ignotas”, sugerindo o som do violão na sibilante “S”.

Ocorrem aliterações no poema inteiro, mas a contida no fonema “V” da 7ª estrofe sugerindo os sons dos violões pode ser considerada uma das mais famosas, cuja musicalidade se tornou inigualável. Em “Vozes veladas, veludosas vozes”, dessa mesma estrofe, o trabalho sonoro com as consoantes “v, z, l” passam musicalidade através das palavras.

“Vozes veladas, veludosas vozes,
Volúpias dos violões, vozes veladas,
Vagam nos velhos vórtices vorazes
Dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas...”

O título do poema, mais as 1ª e 5ª estrofes mostram que os sons dos violões sugerem tristeza, lamento, choro segundo as expressões “Soluços ao luar”, “Bocas murmurejantes de lamento” e “Gemidos, prantos”.

O poeta aproxima os campos sensoriais como segue:

Auditivo: “Plangente”, “bocas murmurejantes”.
Tátil: “mornos”.
Visual: “azuis da Fantasia”, “luz da lua”.

Há um exemplo claro de sinestesia em “Veludosas vozes”, 7ª estrofe, onde veludosas se refere ao tato e vozes à audição.

Os simbolistas manifestam estados de dilaceração da alma e uma profunda “dor de existir”. Na última estrofe esses sentimentos estão presentes de forma explícita. Segundo o texto, as almas fadigadas do sonho isolam-se nos sons dos violões tristonhos.

Visão de desagregação: “abismaram no mistério”.
Isolamento: “Ilhas de degredo”.
Dor ou morte: “degredo atroz, funério”.

Ambas as poesias, estão construídas com muitas rimas, cujas sílabas finais se repetem e se assemelham sonoramente. 

As reticências indicam que o poeta deixou implícita e inacabada uma mensagem que o leitor deverá interpretar dando-lhe uma continuidade que possa explicar.

Na última estrofe do poema VIla rica, o poeta evidencia que o povo todo (procissão espectral) está consternado com a perda. As pessoas seriam como fantasmas, andam atônitas cuja morte já lhes fora anunciada. Restou sobre Ouro Preto a chuva não de ouro que existia na velha Vila Rica, mas de água que representa o ouro dos astros.

E, também, há uma analogia desta que ficou empobrecida, com o poema Marília de Dirceu, especialmente de uma lira da segunda parte, na qual um pastor se dirige a Marília narrando como sua vida próspera e respeitosa fora interrompida por um acidente catastrófico e compara a situação anterior de abastança e felicidade com a atual, de privação e angústia, possível causa do soluço.

Ainda no “Soluça” do verso de Dirceu há a repetição do som “S” na última estrofe, lembrando um choro, sugerindo ao mesmo tempo os sofrimentos amorosos de Marília e Dirceu e o dos inconfidentes mineiros. Dentro do estilo simbolista, o destaque de palavras em maiúsculas é bastante frequente e serve para indicar sua elevação à categoria absoluta, como no caso de “Soluça”. 


quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Banco do Brasil, atendimento de qualidade

Odete Soares Rangel

O Banco do Brasil, agência Mauro Ramos em Florianópolis é sinônimo de bom atendimento, pelo menos no que se refere ao setor de caixas. Os responsáveis por essa proeza são os atendentes de caixa Srs. Israel e Carlos. Eles são muito mais do que atendentes de caixa, são profissionais, educados, respeitosos, afetivos e facilitadores em prol do bom atendimento ao cliente e ao usuário.
 
Nos dias atuais, a maioria de nós realiza suas operações em casa via Internet. O procedimento é mais cômodo, ágil, sem custo algum, e evita dissabores com atendimentos de colaboradores mal-humorados e mal-preparados que ficam descartando e jogando você para as máquinas de auto-atendimento, para outros bancos ou agências lotéricas. Poderia se dizer que hoje se rifa cliente e usuário, mas nessa agência do Banco do Brasil não, ali você é respeitado, você é um cliente, não apenas mais um.
 
Sou usuária da agência, e costumo pagar DOC's do próprio banco. Sempre sou atendida por um desses dois colaboradores. E independente do dia, do tipo de operação, lá estão eles de bem com a vida, educados começam cumprimentando o cliente, demonstram boa vontade e afetividade no atendimento, mostram-se profissionais, éticos e primam por atender bem e fazer com que as expectativas dos clientes sejam atendidas.
 
Não gosto de filas, de espera, mas ali faço isso com prazer, pois quando chego no caixa vem a compensação. Me sinto cidadã, meus direitos são respeitados, sou bem atendida. 
  
hotfrog.com.br
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Vale lembrar que qualidade do atendimento é a capacidade que um produto ou serviço tem para satisfazer plenamente as expectativas do cliente. Os Srs. Israel e Carlos demonstram competência, credibilidade, segurança, mas especialmente estão predispostos para ajudar e servir.  Eles têm o dom da comunicação com o cliente, se fazem especiais pela forma como se comportam nos atendimentos. Acho curioso, porque quando treina-se pessoas,  elas assimilam e agem de forma diferente. Mas analisando o padrão de atendimento desses dois colaboradores, percebe-se uma unicidade. É como se um falasse pela voz do outro.

Fica meu agradecimento aos Srs. Israel e Carlos pelo atendimento humano, afetivo e eficaz. E também a Administração do Banco do Brasil por investir em treinamento e ter colaboradores com essas qualificações no seu quadro funcional. Profissionais esses, com tamanha disposição e consciência da importância de desempenhar bem a sua função. 

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Declaração de Amor - Luis Fernando Veríssimo

Odete Soares rangel
  
tvdegraca.com.br
Declaração de Amor é uma poesia reflexiva. Ela só poderia ter sido construída por um grande artífice da liteartura como Veríssimo. Ora se a poesia pertence ao mundo, e  a criatividade ao poeta, então precisamos fazer com que ela viaje pelo mundo, e que seu autor jamais seja esquecido.  Que possamos refletir sobre sua mensagem, e que não deixemos para fazer nossas declarações de Amor quando as palavras ditas já tiverem perdido o sentido, quando os sentimentos tiverem se desvanecido em meio a um "turbilhão" de tarefas e rotinas.  Pense nisso! Viva o Amor!

Tentei dizer quanto te amava, aquela vez, baixinho...
mas havia um grande berreiro, um enorme burburinho
e, pensando bem, o berçário não era o melhor lugar.
Você de fraldas, uma graça, e eu pelado lado a lado,
cada um recém-chegado,
você sem saber ouvir, eu sem saber falar...

Tentei de novo, lembro bem, na escola.
Um PS no bilhete pedindo cola,
interceptado pela professora como um gavião...
Fui parar na sala da diretora e depois na rua,
enquanto você, compreensivelmente, ficou na sua...
A vida é curta, longa é a paixão.

Numa festinha (ah, nossas festinhas...), disse tudo:
"Eu te adoro, te venero, na tua frente fico mudo"
E você não disse nada... E você não disse nada...
Só mais tarde, de ressaca, eu atinei:
Cheio de amor e "Cuba", me enganei
...e disse tudo para uma... almofada!

Gravei, em vinte árvores, quarenta corações.
O teu nome, o meu, flechas e palpitações:
No mal-me-quer, bem-me-quer, dizimei jardins.
Resultado: sou persona pouco grata,
corrido aos gritos de "Mata!! Mata !!"
por conservacionistas, ecólogos e afins...

Recorri, em desespero, ao gesto obsoleto:
"Se não me segurarem, eu faço um soneto !"
E não é que fiz, e até com boas rimas ?!
Você não leu, e nem sequer ficou sabendo....
Continuo inédito e eu, por teu amor sofrendo...
Mas fui premiado num concurso em Minas.

Comecei a escrever com pincel e piche
em muro branco; o asseio, que se lixe;
todo o meu amor para a tua ciência!
Fui preso, aos socos, e fichado.
Dias e mais dias interrogado:
era PC ... PC do B ou alguma dissidência ?

Te escrevi com lágrimas, sangue, suor e mel,
(você devia ver o estado do papel ! ...)
uma carta longa, linda e passional.
De resposta, nem uma cartinha
nem um cartão, nem uma linha!...
Vá se confiar no Correio Nacional !

Com uma serenata sim, uma serenata
como nos tempos da Cabocla Ingrata
me declararia, respeitando a métrica...
Ardor, tenor, a calçada enluarada...
havia tudo sob a tua sacada.
Menos tomada para a guitarra elétrica !...

Decidi, então, botá a maior banca
no céu e escrever com fumaça branca:
"Te amo", assinado...e meu nome bem legível.
Já tinha avião, coragem, brevê,
tudo para impressionar você !
Mas veio a crise: Faltou o combustível !...

Ontem, você me emprestou o seu ouvido
e na discoteca, em meio do alarido,
despejei meu coração...
Falei da devoção há anos entalada
e você disse:" Eu não escuto nada !! "
Curta é a vida, longa é a paixão...

Na velhice, num asilo, lado a lado,
em meio a um silêncio abençoado,
eu lhe direi o que sinto, meu bem...
O meu único medo é que então ,
empinando a orelha com a mão,
você me responda só: "Hein?"

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Cora Coralina e sua sabedoria do Não Sei...

Odete Soares Rangel

Este é para refletirmos sobre o modo como andamos conduzindo a nossa vida, como alimentamos os nossos relacionamentos, quais valores são importantes e do que podemos nos livrar, trazendo energias restauradoras para que nosso corpo se revigore e sejamos felizes. E para que tenhamos presente que a vida é efêmera, devemos viver bem o hoje. Felizes de nós que transferimos o que sabemos e aprendemos o que nos ensinam. Esse ensinamento de Cora Coralina é valioso!

"Não sei se a vida é curta ou longa para nós,
mas sei que nada do que vivemos tem sentido,
se não tocarmos o coração das pessoas.
Muitas vezes basta ser:
colo que acolhe,
braço que envolve,
palavra que conforta,
silêncio que respeita,
alegria que contagia,
lágrima que corre,
olhar que acaricia,
desejo que sacia,
amor que promove.
E isso não é coisa de outro mundo,
é o que dá sentido à vida.
É o que faz com que ela não seja nem curta,
nem longa demais,
mas que seja intensa,
verdadeira,
pura enquanto durar".

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Cantigas Trovadorescas Portuguesas

Odete Soares Rangel

Poesia Trovadoresca

A nova moda poética que consistia em compor poemas para serem cantados surgiu na Provença, Sul da França. O trovador cuidava da letra e da música, e o jogral, acompanhado de alaúde, flauta, harpa ou de lira, incumbia-se de exibi-las. Eram cantigas líricas, nas quais o sentimento amoroso predominava.

As cantigas ou poemas retratavam o ambiente da corte que expressava o sentimento amoroso, inacessível, que o trovador de origem humilde sentia pela dama da aristocracia. Era um relacionamento que permitia falar em vassalagem amorosa. O servilismo do trovador frente à dama representa o amor cortês, o qual pode ser tanto educado e comedido, como o amor típico da corte.

O tema central da poesia trovadoresca era o amor impossível, eis que a dama cortejada era casada ou pertencia a classe social superior a do trovador, assim o sentimento se convertia em admiração, em exaltação das virtudes da mulher desejada. Por isso costuma-se dizer que é um amor idealizado.

Além da poesia amorosa, dirigida à dama ou ao cavalheiro, coexistiu a poesia satírica irreverente que visava ridicularizar a pessoa focalizada. Esta era bem menos cultivada do que a lírica.

Nas cantigas lírico-amorosas, os trovadores dedicaram-se a dois tipos de cantigas: As cantigas de amor e as cantigas de amigo. As de amor eram dirigidas do homem para a mulher e retratavam o sentimento amoroso masculino. Pode-se dizer que é um lamento, pois o amor declarado não podia se concretizar, haja vista a mulher ser comprometida ou pertencer a uma classe social superior a do trovador.

Nessa cantigas, o trovador se dirige à dama com vassalagem amorosa, tratando-a por “mia dona ou Mia senhor”. A cantiga, além de respeitosa enaltece as qualidades da mulher amada. Trata-se do amor cortês, subserviente, numa relação semelhante ao do servo feudal e seu senhor. O trovador fala das emoções do “eu” masculino, assumindo o ideal do amor cortês. O amor é a experiência de sonhar com uma mulher inacessível e quanto mais ela for inatingível, mais representa o símbolo da perfeição e da pureza.

Cantiga de Amor

Quer’eu em maneira de provençal
Fazer agora um cantar d’amor,
E querrei muit’i loar mia senhor
A que prez nem fremusura non fal,
Nem bondade; e mais vos direi em:
Tanto a fez Deus comprida de bem

Ca mia senhor quiso Deus fazer tal,
Quando a faz, que a fez sabedor
De todo bem e de mui gran valor,
E com todo est’e mui comunal
Ali u deve; er deu-lhi bem sem,
E dês i non lhi fez pouco de bem,
Quando non quis que lh’outra foss’igual.

Ca em mia senhor nunca Deus pôs mal,
Mais pôs i prez e beldad’e loor
E falar mui bem, e riir melhor
Que outra molher; dês i é leal
Muit’, e por esto non sei oj’eu quen
Possa compridamente no seu bem
Falar, ca non á , tra-lo seu bem, al.

Cantigas de amigo

Essas cantigas nasceram no território português e constituem um vivo retrato da vida campestre e do cotidiano das aldeias medievais na região. Há nelas, uma forte presença da natureza, sua estrutura é apropriada ao canto e à transmissão oral, apresenta refrão e versos encadeados e repetidos ou ligeiramente modificados (paralelismo).

Essas cantigas são, comumente, construídas em paralelismos: são pares das estrofes que sempre procuram dizer as mesmas coisas. Assim, o paralelismo e o refrão são típicos dessa canções.

Elas se caracterizam pelo fato do trovador cantar a realidade da mulher: o “eu” feminino exterioriza suas emoções , aflições, expectativas, encontros e desencontros.

Contrariamente às cantigas de amor, as de amigo são realistas e apresentam o “eu” lírico feminino, embora o autor seja um homem. São declarações amorosas, dirigidas a um homem por uma mulher. Elas procuram expressar o sentimento feminino através de pequenos dramas e situações da vida amorosa das donzelas, geralmente, as saudades do namorado que foi combater contra os mouros, a vigilância materna, às confissões as amigas.

É comum a mulher dialogando com a mãe, com uma amiga ou com a natureza, sempre preocupada com seu amigo (namorado). Também ocorre do amigo ser o destinatário do texto, como se a mulher desejasse confidenciar-lhe seu amor, embora não o faça diretamente. O texto é dialogado com a natureza, como se o namorado ouvisse suas juras de amor. Geralmente destinam-se ao canto e a dança.

Nas cantigas de amigo, o trovador imaginava como seriam as emoções do eu-lírico feminino em suas relações amorosas. Geralmente a mulher que chora está lamentando a ausência do seu amado ou até o abandono deste por outra mulher. A mulher que fala, normalmente, é a mulher do povo. Estas cantigas são mais espontâneas do que as de amor, os sentimentos estão claramente expressos: o namorado aparece com o tratamento de “meu amigo”.

A linguagem dessas cantigas é menos elaborada e menos musical que a das cantigas de amor, porquanto a vivência se dá em ambientes cotidianos e não em palácios. A presença do refrão é uma constante e, conforme os assuntos que delas constam, podem ser classificadas em:

Alvas: ocorrem ao amanhecer;
Bailias: cenário é uma festa onde se dança;
Romarias: visitas a santuários, enquanto as "madres queimam candeas".
Barcarolas ou Marinhas: falam do temor de que o "amigo" vá às expedições marítimas; do perigo de que ele não retorne;
Pastorelas: cenário é o campo, próximo a rebanhos;
Paralelísticas: A mais antiga forma de poesia genuína portuguesa. De cunho popular. A técnica consiste na repetição da ideia central em duas séries de estrofes paralelas, alterando apenas a última palavra e sempre com refrão. Ex: de D. Denis.

Cantiga de Amigo

Ondas do mar de Vigo,
Se vistes meu amigo!
E ai Deus, se verrá cedo!

Ondas do mar levado,
Se vistes meu amado!
e ai Deus, se verrá cedo!

Se vistes meu amigo,
O por que eu sospiro!
E ai Deus, se verrá cedo!

Se vistes meu amado
Por que hei gran cuidado!
E ai Deus, se verrá cedo!

Cantigas de escárnio e maldizer (satírica)

As cantigas satíricas medievais - escárnio e maldizer - são sátiras, escritas em linguagem mais vulgar, cujo objetivo é zombar de alguém, seja uma pessoa decadente, seja alguém que tenha passado por um problema amoroso ou ainda uma mulher namoradeira, ridicularizando a pessoa de forma sutil ou grosseira.

As cantigas de escárnio e maldizer são composições que despertaram grandes comentários na época, nas relações sociais dos trovadores; são sátiras que atingem a vida social e política da época, sempre num tom de irreverência. Essas sátiras de grande riqueza, apresentam um considerável vocabulário, observando-se, muitas vezes o uso de trocadilhos; fogem às normas rígidas das cantigas de amor e oferecem novos recursos poéticos.

Os principais temas das cantigas satíricas são a fuga dos cavaleiros da guerra, traições, as chacotas e deboches, escândalos das amas e tecedeiras, pederastia (homossexualismo) e pedofilia (relações sexuais com crianças), adultério e amores interesseiros e ilícitos.

Mas a sátira quase nunca versava sobre temas morais ou sociais, utilizados para influenciar a opinião pública - ressalvando-se o caso de Afonso X, o Sábio. Detêm-se, sobretudo, em aspectos particulares da vida da corte ou jogralesca e a freqüência de certos motivos denunciam traços marcantes do ambiente social e cultural da época.

As disputas políticas, as questões e ironias que os trovadores se lançam mutuamente e que nos lembram os "desafios" de nossa literatura de cordel, as intimidades de alcova, a covardia ou a falta de jeito de alguns cavaleiros, assim como as mulheres feias são temas frequentes nessas cantigas.

As cantigas dialogadas, quer satíricas ou líricas, são chamadas de Tensão. Esses diálogos podem ocorrer entre a moça com a mãe, com uma amiga, com a natureza, ou, ainda, discussão entre um trovador e um jogral, ambos tentando provar que são mais competentes em sua arte.

As cantigas de Escárnio apresentam críticas sutis e bem-humoradas, sem individualizar a pessoa. Porém esta é facilmente reconhecível pelos demais elementos da sociedade.

Cantiga de Escárnio

Rui Queimado morreu con amor
Em seus cantares, par Sancta Maria,
Por ûa dona que gran bem queria,
E, por se meter por mais trovador.
Porque lh’ela non quis
bem fazer,

Fez-s’el em seus cantares morrer,
Mas ressurgiu depois ao tercer dia!
Esto fez el por ua as senhor
Que quer gran bem, e mais vos em diria:
Porque cuida que faz i maestria,
E nos cantares que fez a sabor]de morrer i e desi d’ar viver;
Esto faz el que x’o pode fazer,
Mas outr’omem per ren non o faria.

E non há já de as morte pavor,
Senon as morte mais la temeria,
Mas sabede bem, per as sabedoria,
Que viverá, dês quando morto for,
E faz ’s
em seu cantar morte prender,
Desi ar viver: vede que poder
Que lhi Deus deu, mas que non cuidaria.

E, se mi Deus a mim desse poder,
Qual oi” el há, pois morrer, de viver,
Jamais morte nunca temeria.

Nessa canção, Pero Garcia procurou mofar Rui Queimado – trovador com palavras encobertas. A cantiga apresenta quatro estrofes, portanto uma a mais do que normalmente ocorre e esta última é um terceto, denominada de fiinda. A 1° estrofe é o prólogo da cantiga, as duas seguintes é a perquirição intelectual da relação com a dama e a morte (Rui Queimado morria nas canções mas permanecia vivo enquanto homem), a fiinda serve de fecho às restantes e guarda a moral da história. Pero Garcia satiriza o vezo do poeta em se consumir de amor pela dona dos seus cuidados. Com sua morte reiterada lírica, caiu no ridículo. O tom é irônico e conceituoso, porém na 1a estrofe o trovador enfatiza a sátira ao dizer que sua dona não atender-lhe aos rogos. Em “ressurgir ao tercer dia” o conteúdo é sarcástico e irreverente e a exclamação final mostra a situação grotesca em que Rui Queimado se enliou.

Cantigas de Maldizer

As cantigas de maldizer, ao contrário das de escárnio, são diretas, isto é, individualizam a pessoa tecendo-lhe crítica pesada valendo-se de linguagem mais vulgar, às vezes até obscena. Possuem escasso valor estético, mas seu aspecto documental torna imprescindível seu estudo.

As cantigas de maldizer, assim como as de escárnio, muitas vezes são compostas pelos próprios trovadores que compunham a poesia lírico amorosa. Elas expressavam o modo de sentir e de viver próprio de ambientes dissolutos e focavam a vida boêmia e escorraçada vivenciada nos frascários e tabernários.

Cantiga de Maldizer

Ai, dona fea! fostes-vos queixar
porque vos nunca louv' en meu trobar
mais ora quero fazer un cantar
en que vos loarei toda via;
e vedes como vos quero loar:
dona fea, velha e sandia!

Ai dona fea!, se Deus me perdon!
E pois havedes tan gran coraçon (tendes tanto desejo )
que vos eu loe, en esta razon (mereceis a justiça de eu louvá-la)
vos quero loar toda via;
e vedes qual será a loaçon: (louvor)
dona fea, velha e sandia!

Dona fea, nunca vos eu loei
en meu trobar, pero muito troebei;
mais ora já un bon cantar farei,
en que vos loarei toda via; (Louvarei)
e direi-vos como vos loarei;
dona fea, velha e sandia! (louca)

O trovador do séc. XIII, João Garcia de Guilhade, é o autor da referida cantiga. Essa é considerada uma das mais sugestivas e atuais, cujo registro está no Cancioneiro da Vaticana e Cancioneiro da Biblioteca Nacional. Ele destacou-se pelos privilégios estéticos e pela quantidade de cantigas compostas.

Na cantiga de maldizer que acabamos de ler, o trovador se dirige diretamente à dona “fea, velha e sandia”. Quanto a estrutura temos o esquema do paralelismo, as cobras finalizam em refrão. O trovador, certamente, sabia que sua destinatária esperava uma cantiga de amor, e talvez a atenção do poeta. Entretanto, os defeitos que ela possuía tornavam improcedente e ridícula sua pretensão. O zombateiro trovador no refrão retrata uma situação social que persiste “dona fea, velha e sandia” a qual anseia ser cortejada por um jovem.

Observei que muitas cantigas possuem grafias diferentes nas obras consultadas. Numa palestra ministrada por uma professora portuguesa, ela explicou que os autores vão aportuguesando as cantigas segundo critérios próprios, sendo essa a razão das divergências.