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sábado, 27 de janeiro de 2018

VELHO /NOVO TEMPO. CANSEI !!!

Esta publicação é um tributo a uma amiga querida e muito especial "Marta Bolivar". Infelizmente ela não está mais entre nós, mas nos deixou pérolas como essa. Quis Deus em sua máxima sabedoria, levá-la para alegrar e encantar o seu reino. 

VELHO /NOVO TEMPO.    CANSEI !!!  por Marta Bolivar 


                                                                              
Cansei da violência. Dos abusos sem conseqüências. Dos não-direitos e não-deveres.
Cansei do sarcasmo da impunidade garantida por pseudo-autoridades.
Cansei de tragédias.
De crianças pré-fabricadas no marketing de griffes principescas de trapos medíocres,
sem sonhos e surdas. Fantasiadas de adultos e mandando nos pais infantis.
Cansei do novo feito de retalhos velhos, rotos.
Do barulho alienante e agressivo. Dos ouvidos moucos...
Cansei das frases feitas. De consagração de tanta estupidez.
Cansei dos adesivos bíblicos e chavões queimando o filme de Jesus e Deus.
Cansei dos deuses à imagem e semelhança do homem e das coisas.
Cansei da hipocrisia e poder de religiões, seitas, da empáfia das instituições de Igrejas donas de Deus.

Cansei da "Lei de Gerson" e do valor das aparências. De "belas violas e pães bolorentos".
Cansei de mim. De amar na contramão de valores na moda.
De receitinhas de auto-ajuda.
De festas sem coração e sem música: só barulho, droga e pegação.
De respostas prontas e simplórias.
De doenças incuráveis. Da relação humana incurável.
Do faz-de-conta que tudo está bem e do parecer que se é alto astral e de bem com a vida.
De mentira fantasiada de verdade.
De gente burra e sem alma.  Da ignorância.  De bunda, cerveja e futebol.
Da vagabundagem de mulheres que se dizem livres.
De todos iguais e discordantes em vez de desiguais e concordantes.

Cansei.
Dos tele-marketings.
De Bancos bilionários e ladrões.
Das massas que obedecem à Mídia que dita valores e traça normas
e condutas a seu bel-prazer e interesse do Ibope.
De sexo explícito.  Do lambe-lambe dos filmes e novelas.
Da exaltação dos cretinos.
De meias-medidas e meias palavras. De mal-entendidos.
De empregados interesseiros e safados.
Estou cheia desta minha terra sem lei e da lei sem justiça.  Atrasada!
Cheia e cansada.
De aposentadorias-relâmpago e faraônicas de imprestáveis e
soldo  miserável de quem ralou a vida inteira, idosos esquecidos e maltratados.
Cheia do medo. Dos tiros atingindo quem não era alvo.
De armas recolhidas e repassadas a bandidos.
Dos rios podres secando. De Natureza morta.
Da mentira da transposição do Rio São Francisco em agonia
para propaganda de Governo atendendo a minorias.
E do povo satisfeito com esmolas.

Cheia dos Talibãs, Chávez, Jihad, Lulas, dos malditos partidos políticos ridículos
de votos vendidos e comprados, dos Bush, de guerras,
dos delinquentes de classe média,
das falsas igualdades em produtos de 3ª – em camelódromos oficiais.
Horrivelmente cansada dos terrores do dia-a-dia,
da história sangrenta repetida,
dos ''Bin Laden'' da vida sustentando acéfalos assassinos, desses kamikases modernos
estraçalhando pessoas e cidades, crianças e inocentes,
de vagabundos matando por nada e roubando o pão ganho com suor.
Dos modelos e utopias vazias.
Das masturbações a dois, a dez, a mil.  Milhões...
Dos traficantes mantidos e mantendo poderes oficiais.

Cansei de remédios que não curam. Da frieza e açougue de tantos
médicos e hospitais.
De profissionais picaretas.
Dos vacinados e indiferentes, raça miserável!
Dos carros bonitinhos e ordinários.
De índios bebendo e se matando por falta de vida, espaço e sentido.
De mendigos que amam mendigar, dos sem-vergonha, sem escrúpulos.
De ficar atrás de grades e cercas elétricas, alarmes, em casa.
De ver gente enchendo a cara desde cedo.
De "maconheiros" criticando cigarro e de cigarro-fonte-de-todos-os-males.

Cansei de ver tanto desperdício e esbanjamento. Do descartável sem proveito depois.
Cansei  - e me dói - ver gente jogando fora miolo de pão e comida que sobrou no prato.
Cansei dos saciados!
De revoluções desumanas que só mudam a cor dos uniformes sob o medo e a morte.
De tantos mercenários.
De patriotismo barato de caras lavadas ou pintadas.
De passado que devia estar morto e enterrado voltar como zumbi.
Dos filmes de terror e violência sarcástica. De ironia.
De executivos de merda sem tempo e escrúpulo.
De Campeonatos e jogadores profissionais vendidos por milhões de euros e dólares
que fazem do esporte uma guerra.

Estou cheia das comidas japonesas bonitinhas amassadas com mão suja,
dos fast-food da vida, sem opção e sem graça;
da Natureza agonizando, de tsunamis e terremotos, das florestas desaparecendo,
horrorizada de saber que há espécies inteiras se extinguindo no planeta a cada dia.
De dirigir em estradas perigosas e lotadas de buracos e loucos ao volante,
de aviões voando para a morte
e do jogo de empurra.
De caminhos propagandeados que levam a nada.
De cargos políticos com gente corrupta e incapaz gerando caos e morte.
De gente indefesa jogada à própria sorte.

O dia está quase amanhecendo.
E eu aqui. Cansada. E escrevendo.
Para descansar e clarear um pouco a mente.
O sol já vem, ao sabor do aquecimento global.
O jornal trará velhas notícias, muita propaganda, sangue e suor.

Preciso amanhecer!

O dia vai ser um pouco diferente, como cada dia.
Mas, no fundo, nada es nuevo bajo el sol.
Não tenho muita ilusão.
Verei muita merda e ouvirei outras.
Provavelmente darei minha contribuição também nessa merda toda...
Mas não quero amanhecer cega, surda e burra – sem hoje ou amanhã.

Vou sair olhando e querendo ver que há mais do que só cansaço pobre.
Curtir humor inteligente e sensível.
Enriquecer o cansaço trabalhando, tentando criar algo que
faça valer a pena viver, estar viva.
Não quero estar distraída, esquecida, sem malícia.
Preciso estar de coração mais aberto e flexível para ver a vida,
buscar vida – mesmo escondida em cada medo ou morte.
Navegar na memória do bom e bonito,
lembrar gente boa, os que amo e me amam,
os que amam:  pessoas humanas raras e preciosas,
e ter algum prazer que me alimente.
Terei saudade, mas quero que seja doce.
Em algum momento serei eu e humana.
Talvez consiga rezar.
Apesar dos pesares tenho tanto a agradecer a Deus.

Estarei e me sentirei cansada. Dormi pouco. Pensei muito.
Mas estou viva.
Quem sabe consigo soprar a chama, para que brilhe mais ?!
Ou até consiga crer e esperar, mesmo contra toda esperança ?!
Contarei a noite também pelas estrelas e elas vão sorrir.
Lembrarei Citadelle e Éxupéry.
Assim não vou maldizer a escuridão.
Afinal, estrelas mortas há séculos estão iluminando o céu...

O Homem não é de todo maldito, afinal.
Há razões de esperar, creio. Sei.
E vou seguir. Teimosa.
Cansada, mas sem desespero,
tentando me equilibrar
na corda bamba de centelhas de esperança caduca.
Vou caducando. 
Mas vou!

Um comentário:

CARLA ALBRECHT disse...

Parabéns,linda reflexão!me identifiquei!