Odete Soares Rangel
"SEM TÍTULO, MÃE" é o título deste belo texto do escritor Renoir Pereira da Silva e teve a sua publicação, neste blog, autorizada pelo autor. Ele, que recentemente, publicou o livro "Coisas da Vida", sempre nos surpreende com o suspense que permeia seus textos. De alguma forma, em algum momento, em algum lugar no espaço, o leitor sente-se personagem da história. Talvez porque Renoir aborde relacionamentos interpessoal e social, com suas frustrações, seus medos, sua incapacidade de olhar para dentro de si e de buscar a mudança. Parece-me uma necessidade do escritor de sacudir esse personagem, para que ele se oriente pela psicologia e cultive a boa autoestima, renascendo para a vida e contemplando o que se espera dele.
Não sei se o título do livro Coisas da vida foi escolhido aleatoriamente ou se tem alguma relação com Pierre-Auguste Renoir (1841-1919), pois este costumava ser chamado de “o pintor da vida”. Ele só conseguia produzir quando se sentia feliz.
Viagem! Não sei, mas é assim que sinto.
Leia o texto, depois deixe seu comentário para enriquecer o debate!
"SEM TÍTULO, MÃE.
Por Renoir Pereira da Silva
Será meu lado afetivo? Será
algo físico? Será a insensibilidade de não saber enxergar ou dar valor às
coisas e às pessoas que estão a minha volta? Será o resultado da minha falta de
esforço para alcançar meus objetivos? É um estado deprimente. O que é essa
coisa dentro de mim que não me deixa lutar? Eu não sei, não consigo achar a
resposta, mas achei o porquê de o papai ter feito aquilo. Ele estava assim,
como eu. Não consigo ser gestor de mim, eu gostaria de melhorar, porém percebo
que não sou inteligente o suficiente para administrar minhas frustrações, meus
medos, minhas inseguranças. Frustrações, medos e insegurança todos as possuem,
o que mais pesa é o saber lidar. Quando tento me perguntar por que estou assim,
só consigo tentar explicar com metáforas, pois não há nada concreto, eu sei
disso. O “saber” que nada está tão ruim para mim, que tenho pessoas próximas a
mim que me amam, que querem me ajudar, me causa um autoflagelo, pois sei que
elas querem me apoiar, mas não as dou possibilidades. Elas são a cura para
minha a tristeza. Minha história de vida é o remédio para minha baixa autoestima. Meu caminho para chegar até aqui
é lindo, mas parece que eu estou caminhado sem saber aonde quero chegar.
Quais são causas do meu desânimo? Não as sei, mas
sei a consequência: inércia. Será o estresse do meu
dia-a-dia? Há até, antes
inimaginável nessa minha juventude, uma diminuição do desempenho sexual,
não é mais a mesma alegria prazerosa, o libido caiu, no lugar veio a insônia e
a apatia. Hoje eu tenho múltiplo despertares à noite. Eu acordo, olho para rua,
penso em minhas obrigações, que sempre me proporcionaram prazer, mas a vontade
é de ficar, me colar, me grudar na cama e não mais sair, um dia azul de sol tem
um tom cinzento. É sono matinal, à tarde, toda hora. Tenho falta de humor e um espírito depressivo, uma facilidade
avassaladora para a irritabilidade, ansiedade e angústia. Sinto um cansaço
enorme, é difícil sentir alegria e prazer em atividades anteriormente
consideradas agradáveis, tenho desinteresse até nas pessoas que me querem bem,
pessoas que eu amo. Junto a mim sempre está essa indecisão em coisas simples,
uma insegurança enorme, é um vazio que me deixa cheio de dúvidas. Mãe, não
consigo mais acreditar nas pessoas, ver beleza nas flores, admirar paisagens,
não vejo graça em sorvetes ou em rodas-gigantes, mas esse amor pela senhora eu
vou levar para sempre. Não sei de onde veio esse meu pessimismo, esse sentimento
de culpa e inutilidade. Sinto uma imensa dificuldade de concentração, sinto o raciocínio
mais lento. Veja como estou mudada, mãe. Não consigo sair de dentro de mim,
nego ajuda para mim mesma, fico estupidamente untando o meu ego com óleo da
vaidade. Não consigo entender este meu eu. O desprezo dos outros é suportável e
a gente consegue vencer, mas a falta de valor que nós damos a nós mesmos, é
muito pior para ser derrotado. Eu tenho todas as chances para me levantar, mas
uma força me empurra para baixo, e eu não estico o braço. Não vejo razão para continuar,
não há desejos, não existem planos há longo prazo, pois não existe expectativa
de continuar. Mãe, não me julgue, não lhe julgue, você deu todas as chances
para eu ser feliz, e até aqui eu fui feliz, você não podia fazer nada para
evitar. Só dependia de mim. Mãe, tire isso da família, isso só traz desgraça. E
nós quatro éramos tão felizes. Cuide bem da nossa menininha, sua netinha, diga
para ela que a mamãe dela virou uma estrelinha. Amo vocês."
Leia também:
- "http://ideiaepapel.blogspot.com.br/2014_08_01_archive.html"
- "http://odeter.blogspot.com.br/2014/06/coisas-da-vida-de-renoir-silva.html"
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