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sábado, 21 de abril de 2012

Ver (me)

Odete Soares Rangel


Sou o verme do mundo - ver (me) - de espanto
Porque vários lugares do mundo há gente nua,
Sobretudo, a gente fraca, sem voz cheia de pranto
Que enforca a garganta, sentado na rua.


Sou o carbono se desfazendo no canto
Objeto perdido sob a ignorância tua,
Filho do tempo em desencanto
Sombreia-me a luz sublime da Lua!


Sou o verme ambulante a perder a vida,
Muitos riem de minha desgraça;
Para alguns olhos, uma horrenda ferida.


Vou-me decompondo e peço graça,
Suspirando - últimos suspiros - partida
De um verme que dorme na Praça.

A poesia Ver (me) é de autoria de Carlos Máximo. Ele nasceu aos 13 de maio de 1978, em São Domingos, norte goiano. Cedo já se interessava pela literatura.  Em 2003, iniciou sua carreira lançando o livro Além de mim, os sonetos.  

Penso que ele faz uma analogia entre o verme (animais alongados, moles, desprovidos de patas - larvas de muitos insetos, que mina ou corrói lentamente ou ainda uma pessoa vil, desprezível com Ver (me) de enxergar. Quando ele diz sou o verme do mundo pode estar se colocando nessa posição de desprezível, já no Ver (me) de espanto, está o enxergar.  Quando nos espantamos? Quando vemos ou ouvimos algo estranho ou que nos desagrada. 

Esse verme do Carlos Máximo vê gente nua, sentada na rua, fraca, sofredora como o verme que ele é e acaba se decompondo, dando seus últimos suspiros e partindo . Ele era o carbono se decompondo, para muitos como uma doença infecto-contagiosa (ferida horrenda),  riam da desgraça dele, e no final esse verme que dorme na praça pode induzir a crer que possa ser tanto o homem que parti, quando o verme gerado da carne podre do homem morto e abandonado na praça.

O bom da poesia é que nos permite viajar um pouco, certo ou não, foi como vi o poema. Mas adoraria que os leitores pudessem comentá-lo, pois cada interpretação é única.

Você deve lembrar que verme é um termo recorrente na poesia de Augusto dos Anjos.  Ele se debruça  sobre a decomposição, a morte e os vermes, como pode ser observado nos poemas a seguir transcritos.  Os termos em itálico marcam as semelhanças entre os poemas.  


Tudo leva a crer que Carlos Máximo inspirou-se em Augusto dos Anjos para escrever o poema.

O Deus-Verme (Augusto dos Anjos)


Fator universal do transformismo.
Filho da teleológica matéria,
Na superabundância ou na miséria,
Verme — é o seu nome obscuro de batismo.


Jamais emprega o acérrimo exorcismo
Em sua diária ocupação funérea,
E vive em contubérnio com a bactéria,
Livre das roupas do antropomorfismo.


Almoça a podridão das drupas agras,
Janta hidrópicos, rói vísceras magras
E dos defuntos novos incha a mão...


Ah! Para ele é que a carne podre fica,
E no inventário da matéria rica
Cabe aos seus filhos a maior porção!


Psicologia de um vencido (Augusto dos Anjos)

Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigênesis da infância,
A influência má dos signos do zodíaco.

Profundissimamente hipocondríaco, 
Este ambiente me causa repugnância... 
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia 
Que se escapa da boca de um cardíaco.

Já o verme — este operário das ruínas —
Que o sangue podre das carnificinas 
Come, e à vida em geral declara guerra,

Anda a espreitar meus olhos para roê-los
E há-de deixar-me apenas os cabelos, 
Na frialdade inorgânica da terra!

2 comentários:

Júlia Miranda disse...

Eu realmente fiquei indecisa de pedir, mas, tentada pelo desejo, resolvi escrever para você, pedindo para ler uma obra de sua autoria. Desde já grata,
júlia m.

Odete Rangel disse...

Oi Júlia,

Não sou uma escritora, sou apenas uma curiosa que gosta de escrever.

Mas tenho dois artigos publicados (links 1 e 2).
http://odeter.blogspot.com.br/2010_03_01_archive.html
http://odeter.blogspot.com.br/2010/03/informatica-na-educacao-uma-revolucao.html

Trabalho escolar
http://odeter.blogspot.com.br/2010/04/alma-de-poeta-coracao-e-voz-do-povo.html

Todas as poesias postadas em maio de 2010 são de minha autoria , (se é que assim podem ser chamadas, pois eu escrevia o que sentia, sem ater-me ao rigor formal). Na época em que as escrevi, nem imaginava que um dia existiria essa ferramenta chamada blog e que teria um alcance dessa magnitude. Hoje ele tem 393 posts, escrevo porque gosto e acho que tenho um certa habilidade para isso.

Espero ter atendido seu pedido.

Grande abraço,