Quando pura
é inodora, insípida e incolor.
Reduzida a vapor,
sob tensão e a alta temperatura,
move os êmbolos das máquinas que, por isso,
se denominam máquinas de vapor.
É um bom dissolvente.
Embora com excepções mas de um modo geral,
dissolve tudo bem, bases e sais.
Congela a zero graus centesimais
e ferve a 100, quando à pressão normal.
Foi neste líquido que numa noite cálida de Verão,
sob um luar gomoso e branco de camélia,
apareceu a boiar o cadáver de Ofélia
com um nenúfar na mão.
GEDEÃO, António. Poesias Completas (1956-1967). Lisboa. Portugália, 1972. p. 244-5.
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As duas primeiras estrofes falam das propriedades físicas da água e da sua utilidade, enquanto que na terceira o tom é outro. Apresenta um ritmo mais lento e imponente que substitui o trivial das estrofes anteriores.
Os dois primeiros versos da terceira estrofe aludem ao amor e a vida, já o terceiro retrata a morte, a podridão e a frieza que se refletem no corpo de Ofélia boiando e putrefando. Isto evoca Ofélia da tragédia de HAMLET de Shakespeare. Ela amava HAMLET e transtornada pela dor porque ele matara seu pai, morreu afogada.
No quarto verso, o vocábulo nenúfar significa uma planta aquática da família das ninfáceas. Esta palavra nos remete às ninfas, divindades gregas dos bosques e dos rios, as quais eram bonitas e formosas. Assim, é um signo evocador da juventude, da beleza e da vida.
As flores são símbolos universais, a camélia branca representa a beleza perfeita. E como todas as demais se desenvolve a partir da terra e da água. Lembram-se da deusa Flora raptada por Zéfiro (vento) que se enamorou dela, concedendo-lhe assim o poder de reinar sobre todas as demais flores.
Então, podemos viajar um pouco através da literatura. Talvez pudéssemos inferir que o nenúfar na mão de Ofélia tivesse recebido uma recompensa de poder e reinado. Que a traria novamente à vida ou a levaria desta, bela e formosa como na juventude, purificada pela água em que estava imersa, líquido de sustentação das vidas em geral.
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Então, podemos viajar um pouco através da literatura. Talvez pudéssemos inferir que o nenúfar na mão de Ofélia tivesse recebido uma recompensa de poder e reinado. Que a traria novamente à vida ou a levaria desta, bela e formosa como na juventude, purificada pela água em que estava imersa, líquido de sustentação das vidas em geral.