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sexta-feira, 27 de junho de 2014

Poesia...aperitivo do poeta!

Odete Soares Rangel



O poema abaixo conforme indicado é de autoria de Juliana Piccoli, quando universitária do Centro Universitário Ritter dos Reis (UniRitter). Ele foi o vencedor do Concurso de Poesia da universidade, ocorrido durante a Semana Acadêmica,  em outubro de 2002. O poema foi publicado na página 43, da Revista Palávora, da Editora UniRitter.

ESTAREMOS ABERTOS NO DOMINGO

Por Juliana Piccoli

Na farmácia:  Estaremos abertos no domingo.
No mercado:  Estaremos abertos no domingo.
Na padaria:    Estaremos abertos no domingo.
Na loja:         Estaremos abertos no domingo.
      Em casa:  Estaremos abertos no domingo.


Alguém poderia perguntar se isso era poesia? A professora Rejane Pivetta escreveu um artigo com o título  "Professora, mas isso é poesia...?" Ela explica: "Podemos argumentar em favor do poema, não para interferir nas preferências estéticas dos leitores (afinal, é muito difícil justificar objetivamente o gosto) mas ao menos para provocar o debate em torno da literatura."

Ela continua dizendo que as manifestações literárias estão sujeitas a dinâmica do tempo, e que  não se pode cobrar da literatura um aprisionamento a padrões estéticos, pois isso contrariaria o impulso renovador inerente a todas as formas de arte.

Ainda, segundo ela não se pode desconhecer o legado da poesia moderna, especialmente a sua vinculação ao cotidiano, ao prosaico.  Ela define poesia como o lugar da surpresa da linguagem, pois na poesia a linguagem se arrisca mais, experimenta sons, ritmos, imagens e sentidos que vão muito além das palavras desgastadas da prosa cotidiana. 

A professora Rejane diz que é isso que o poema da Juliana é. Uma ressignificação de um anúncio presente no nosso dia-a-dia "Estaremos abertos no domingo". Se o mercado, a farmácia, a padaria e lojas insistem para que consumamos nesse dia, não nos resta outra alternativa, senão ceder ao apelo. Trocamos a privacidade e o conforto da nossa casa pelas mercadorias que alegres nos esperam nas prateleiras  e vitrines.

O poema quis dizer isso! A leitura e o sentir vão depender da sensibilidade é vivência de cada leitor.

Essa seria a charada da poesia, não dizer tudo abertamente. E a professora finaliza seu discurso dizendo: "Se existe algum critério para identificar a poesia, certamente ele está na potência da linguagem, capaz de transformar  a banalidade do cotidiano em uma percepção plena de significados."

Parabéns a professora Rejane Pivetta, grande mestra da Literatura brasileira, pelos seus ensinamentos, e a Juliana Piccoli pela sua criatividade e sensibilidade de transformar algo tão banal numa obra de arte vencedora.

Parabéns, também, aos amigos Ana Cláudia Porto Leal e Diego Castilhos Petraca, alunos organizadores da revista, os quais muito contribuíram para o lançamento da mesma, possibilitando eternizar os trabalhos nela publicados.

Fonte: Palávora. v. 1, 2003. Porto Alegre: Ed. UniRitter, 2003. pgs. 41 a 43.


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