Odete Soares Rangel
Gargalha, ri, num riso de tormenta,
Como um palhaço, que desengonçado,
Nervoso, ri, num riso absurdo, inflado
De uma ironia e de uma dor violenta.
Nervoso, ri, num riso absurdo, inflado
De uma ironia e de uma dor violenta.
Da gargalhada atroz,
sanguinolenta,
Agita os guizos, e convulsionado
Salta, gavroche[1], salta clown[2], varado
Pelo estertor dessa agonia lenta...
Agita os guizos, e convulsionado
Salta, gavroche[1], salta clown[2], varado
Pelo estertor dessa agonia lenta...
Pedem-te bis e um bis não se despreza!
Vamos! retesa os músculos, retesa
Nessas macabras piruetas d'aço...
Vamos! retesa os músculos, retesa
Nessas macabras piruetas d'aço...
E embora caias sobre o
chão, fremente,
Afogado em teu sangue estuoso[3] e quente
Ri! Coração, tristíssimo palhaço.
Afogado em teu sangue estuoso[3] e quente
Ri! Coração, tristíssimo palhaço.
Vocabulário
[1] Gavroche - garoto.
[2] Clown – palhaço, bobo.
[3] Estuoso – ardente, febril.
Pode-se dizer que acrobata é um
dançarino sob cordas, um equilibrista.
Um equilibrista! Assim também é o palhaço, o qual necessita equilibrar seus sentires, suprimir suas dores e
sofrimentos em prol de trazer alegria e
diversão para a plateia. O homem ou
mulher transveste-de de palhaço interna e externamente. E nesse momento ele é apenas um ator ou
atriz, nasce e morre no palco, no início e no fim do ato. Ironicamente ou não,
o ser humano se despoja dos seus sentimentos e precisa agir como se sua vida
fosse um mar de rosas. Para ele(a) é como se a dor não existisse, como se o
sofrimento fosse um fantasma que assombra, mas que é produto da sua fantasia. Então gargalha, ri, faz o bis! E alegra os outros.
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