— Supor que o que cada um de nós quer como indivíduo é impossível sugere que não estamos fazendo as perguntas certas — disse Linda P. Fried, epidemiologista, geriatra e reitora da Faculdade Mailman de Saúde Pública da Universidade Columbia.
Segundo Fried, as descobertas feitas pela ciência do envelhecimento devem "reformular nossa compreensão dos benefícios e custos do envelhecimento".
A partir de seu posto na Faculdade Mailman, cargo que ocupa há quatro anos, Fried está incentivando estudantes, professores e um público mais amplo a fazer as perguntas certas e refletir sobre as políticas adequadas para manejar o envelhecimento da população mundial.
O objetivo de Fried é dirigir uma escola que ofereça às novas gerações as ferramentas necessárias para lidar com os desafios globais da saúde pública, incluindo a degradação ambiental, os custos crescentes com assistência médica e a pressão da rápida urbanização. Contudo, ela acredita que a pesquisa sobre o envelhecimento e as mudanças na saúde que vivenciamos "ao longo da vida" são fundamentais para a concepção de soluções para os problemas de saúde pública no século XXI.
Com o aumento de 26% nas inscrições no mestrado e doutorado nos últimos quatro anos, e de até 12% nas subvenções concedidas pelos Institutos Nacionais de Saúde (NIH) em 2011 — ano em que o orçamento total dos NIH diminuiu ligeiramente —, as iniciativas da Faculdade Mailman receberam um novo incentivo. O currículo da instituição sofreu uma grande reformulação, de modo a refletir uma nova ênfase na preservação da saúde e na prevenção de doenças para cada fase da vida.
Síndrome da fragilidade
Seria demasiadamente prematuro qualificar o trabalho de Fried como reitora como o coroamento de sua carreira. Aos 63 anos, ela viaja bastante, participa de inúmeras iniciativas sem fins lucrativos ligadas ao envelhecimento, tem uma casa em Baltimore e um apartamento em Nova York, e, vez ou outra, passeia de patins pelo Central Park.
Fried dirigiu uma grande quantidade de pesquisas científicas sobre o envelhecimento. Ela passou mais de duas décadas na Universidade Johns Hopkins analisando dados coletados sobre a saúde de mais de 5 mil homens e mulheres de 65 anos ou mais como parte da Pesquisa de Saúde Cardiovascular ligada à instituição. Posteriormente, também analisou dados relacionados a mil mulheres de mais de 65 anos para a Pesquisa sobre a Saúde e o Envelhecimento das Mulheres no âmbito da universidade.
Ela inovou na definição da fragilidade vivenciada por idosos por meio do desenvolvimento de uma ferramenta de avaliação simples, que utiliza cinco critérios para testar a fragilidade. Também desenvolveu o conceito de "síndrome da fragilidade", e continua a orientar colegas mais jovens em estudos que investigam a forma com que as pessoas frágeis reagem a diversos fatores estressantes.
As descobertas de Fried estabeleceram novos padrões para a avaliação e o tratamento de pacientes geriátricos. Seu trabalho se "tornou um conteúdo básico de todos os programas geriátricos" do país, disse Christine K. Cassel, presidente e diretora executiva do Comitê Americano de Medicina Interna, uma renomada especialista em medicina geriátrica.
Aceitando a complexidade
Com efeito, a síndrome de fragilidade que Fried descreve é simples nos seus elementos constituintes, mas, ao mesmo tempo, complexa na forma em que esses elementos interagem. Em uma espécie de sinergia negativa, uma nutrição insuficiente pode levar à perda de massa muscular, que pode reduzir a resistência e a velocidade do caminhar, que, por sua vez, reduz o total de atividades e de energia. Todos esses fatores interagem para desregular os sistemas imunológico e endocrinológico no organismo, entre outros. Muitos dos trabalhos que Fried realizou sobre a fragilidade têm um esquema com setas que indicam as fases de retroalimentação negativa, assim como seu funcionamento.
— Eu penso de modo intuitivo e sou muito visual. Existe uma progressão; nós nos esforçamos para alcançar um objetivo. Tentamos chegar a ele por 40 caminhos diferentes. Um dia, tudo se conjuga. Depois, vêm anos de estudo para demonstrar o que sabemos. Todos conhecem aquela frase de Michelangelo: "esculpir é simplesmente a arte de revelar uma figura que se encontra na pedra". Na ciência, de vez em quando removemos o mármore e o que se revela é exatamente o que pensávamos que íamos encontrar — disse Fried.
Apesar da ampla aceitação do trabalho de Fried sobre a fragilidade, alguns pesquisadores desenvolveram ferramentas que competem com ele: Kenneth Rockwood, geriatra da Universidade Dalhousie, em Halifax, Nova Scotia, favorece o uso de um índice matemático baseado em um número de 31 a 100 de deficiências específicas, incluindo "atividades de vida cotidiana", como vestir-se e tomar banho.
Fried acolheu a contribuição de Rockwood com satisfação. Alguns anos atrás, convidou-o para participar do conselho consultivo externo do Centro de Envelhecimento e Saúde da Universidade Johns Hopkins.
— Quantas pessoas convidariam um concorrente para participar do seu programa? — disse Rockwood.
Essa abordagem colaborativa é uma marca do trabalho de Fried. Vários colegas citam sua generosidade de espírito e sua defesa incessante dos jovens médicos e pesquisadores, especialmente as mulheres.
— Eu acho que não teria me tornado diretora do departamento de bioestatística se não fosse por sua orientação — disse Karen Bandeen-Roche, da Faculdade Bloomberg de Saúde Pública da Universidade Johns Hopkins.
De uma geração à outra
Fried reconhece que praticar a arte "visualmente bela" do aiquidô, que enfatiza a não-violência e a resolução de conflitos, possibilitou que ela tivesse uma noção de sua "própria força" e as ferramentas para liderar de modo ético e eficaz. Ela se interessou pelo aiquidô por conta de sua baixa estatura e começou a praticá-lo quando tinha 20 e poucos anos. Aos 30 e tantos, já era faixa preta.
Fried foi também bastante influenciada por sua mãe, Adrienne Fried Block, uma "pensadora altamente original e analítica". Block foi musicóloga e estudiosa feminista, tendo concluído a graduação aos 30 e tantos anos. Começou a pós-graduação aos 40 e tantos anos e completou doutorado por volta do 50. Depois deu aulas e orientou trabalhos por muitos anos. Morreu em 2009, aos 88 anos. O pai de Fried, George Fried, tem 94 anos — e está frágil, conta ela. A maior lição que ela aprendeu com a mãe, contou Fried, é que "nenhuma vida humana deve ser desperdiçada".
No início de 1990, isso a motivou a colaborar com o ativista social Marc Freedman, entre outros, no planejamento e prática de um programa de voluntariado nacional chamado Experience Corps. O programa treina voluntários com idades a partir de 55 anos para serem tutores do jardim de infância até a terceira série em escolas economicamente desfavorecidas, durante 15 horas por semana. O programa piloto começou reunindo voluntários em cinco cidades em 1996; agora, o projeto foi ampliado para 19 cidades, incluindo Baltimore.
Desafios à vista
Fried ainda procura por novas maneiras de envolver membros da população idosa. Ela e Laura L. Carstensen, diretora do Centro de Longevidade de Stanford, ambas colaboradoras da Rede de Pesquisa sobre uma Sociedade em Processo de Envelhecimento da Fundação MacArthur, escreveram recentemente um artigo a quatro mãos para o Fórum Econômico Mundial, propondo o desenvolvimento de "infraestruturas que aproveitem os verdadeiros talentos e possíveis contribuições que os idosos saudáveis podem trazer às sociedades".
Uma ideia que Fried considerou e que está sendo desenvolvida atualmente no Centro de Stanford é um programa que objetiva orientar as pessoas que estão prestes a se aposentar a participar de atividades voluntárias que possam exercer durante a aposentadoria. Fried também espera fortalecer o Centro Internacional de Longevidade, recém-criado na Faculdade Mailman.
O geriatra Robert N. Butler, que morreu em 2010, fundou o centro e expressou o desejo de trazê-lo à escola onde se formou. Com centros afiliados ao redor do mundo, o centro será o carro-chefe de projetos interdisciplinares de pesquisa de Columbia. Os temas incluem a prevenção de doenças e a habitação para os idosos. Fried espera que professores das áreas de Engenharia, Arquitetura e outras disciplinas participem ativamente da agenda do centro de pesquisa.
Porém, o objetivo básico da pesquisa científica ainda chama a atenção de Fried. A cada dois meses, aproximadamente, ela pega um trem bem cedo na Estação Penn de Nova York com destino à Estação Penn de Baltimore, chama um táxi para ir ao Centro de Envelhecimento e Saúde e caminha até uma sala de reuniões onde cerca de uma dúzia de colegas, atuais e antigos, do Johns Hopkins se reúnem em uma grande mesa. Depois de conversar sobre fotos de bebês e férias recentes, Fried passa a trabalhar: discutindo as pesquisas mais recentes sobre como as pessoas frágeis reagem a diversos fatores estressantes.
Fried questiona, estimula e provoca os seus colegas mais jovens. Depois que Rita R. Kalyani, endocrinologista, apresentou as suas descobertas sobre a diminuição da tolerância à glicose entre as pessoas frágeis, Fried qualificou o seu trabalho como "emocionante e fascinante".
Mesmo que o financiamento que sustentava as iniciativas do grupo tenha se esgotado, eles prometeram continuar a se reunir, alternando entre Nova York e Baltimore. A participação de Fried é incomum, mas bem-vinda.
— Realmente me surpreende que ela ainda tenha energia e se sinta motivada para continuar trabalhando com o tema da fragilidade — disse Ravi Varadhan, bioestatístico e engenheiro que faz parte do grupo.
Para Fried, esse é o único caminho possível:
— Nós estamos trabalhando com esses dados há 20 anos. Analisar efetivamente os dados que levamos de oito a 10 anos para projetar e coletar e perceber que eles correspondem exatamente à hipótese que levantamos, bem, isso é sempre uma experiência agradável."