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quarta-feira, 14 de abril de 2010

Nísia Floresta, uma mulher à frente do seu tempo

Odete Soares Rangel


Se você é mulher e não esta confortável com seu ritmo de vida ou com suas atitudes pode se espelhar em Nísia Floresta para mudar, uma mulher batalhadora que morreu defendendo suas convicções e lutando por uma sociedade mais justa e igualitária para as mulheres.


Ela nasceu em 12 de outubro de 1810, em Papari (RN). O município passou a denominar-se Nísia Floresta em sua homenagem, após o falecimento dessa ilustre escritora e poetisa, conforme mostra o mapa ao lado.


Era uma mulher forte, segura de si, casou-se aos 13 anos de idade, um ano depois se separou e aos 18 anos foi morar com Manuel Augusto de Faria Rocha, aquele que foi o grande amor de sua vida.


Educadora, escritora e poetisa, publicou cerca de 15 obras, mas foi seu primeiro livro “Direito das mulheres e injustiças dos homens” escrito em 1832 que causou o maior alvoroço. Esta obra rendeu-lhe a honra de ser a precursora do feminismo no Brasil, e também a pioneira no Brasil a defender a inserção das mulheres à instrução e ao mercado de trabalho. A obra foi inspirada no livro da feminista inglesa Mary Wollstonecraft: Vindications of the Rights of Woman, mas Nísia foi além da tradução, introduziu suas próprias reflexões sobre a realidade brasileira.


Ela defendia que as mulheres precisavam livrar-se da opressão e do enclausuramento, e que elas deveriam ter direito a uma sociedade mais justa. Ela, também, lutou pelos direitos dos índios e dos escravos. Criticava os homens que se impunham, tão somente, pela forca física ao passo que as mulheres tinham uma força e um poder que lhes permitiam conseguir tudo quanto desejassem, inclusive o desempenho de cargos de comando, contrariamente as habilidades de cantar e bordar que eram desejadas para as mulheres à época.


Ela foi difamada e desprezada, na sua cidade natal histórias absurdas eram inventadas a seu respeito. Uma delas era que em noites de lua cheia, seu espírito saia do túmulo e vagueava pelas ruas à “caça” de homens. Uma outra era que aparecia em forma de serpente, cuja lenda nos anos 60 levou um prefeito conservador a determinar que acorrentassem o túmulo dela para que o fantasma não saísse e assustasse os moradores.


Mais tarde, já em Recife, apaixonou-se pelo estudante de direito Manuel Augusto de Faria Rocha, com quem passou a viver e teve dois filhos. A felicidade durou pouco, seu ex-marido acusou-a de adultério, então a família mudou-se para Porto Alegre em busca da paz. Logo após a chegada no Sul, Manuel teve um mal súbito e morreu aos 25 anos, deixando-a viúva com os dois filhos Lívia Augusta e Augusto Américo.


A família permaneceu morando na cidade, Nísia dava aulas particulares e escrevia. Ela foi a primeira mulher no Brasil a publicar textos em jornais. Em 1837 para fugir dos perigos da revolução farroupilha mudou-se para o Rio de Janeiro. Lá fundou e dirigiu os colégios Brasil e Augusto, este último em homenagem ao segundo marido, uma escola destinada a meninas. Ela lecionava italiano, latim, francês, inglês, geografia, historia, aritmética e língua portuguesa, enquanto a maioria das escolas tinha em seu currículo aulas de francês, costura, bordado, canto e piano. Criticada pela grade curricular que incluía o ensino do latim e atividades físicas para as meninas, nunca se deixou abater. Ela continuou gerindo os colégios e escrevendo livros de romances, contos, ensaios, poemas, etc no melhor estilo romântico.


A educação era tema presente na sua obra, objetivava formar consciência, acreditava que uma sociedade só progredia através da educação de qualidade aliada à educação moral. Nesse sentido, vale destacar suas obras Conselhos a minha filha (1842); Opúsculo humanitário (1853) e A Mulher (1859). Opúsculo Humanitário é uma coletânea de artigos versando sobre a emancipação feminina, obra elogiada por Augusto Conte.


Em 1849 sua filha Lívia sofre um acidente quando andava a cavalo, o médico sugere a troca de ares e a família mudou-se para Paris. Augusto retorna ao Brasil, Lívia fica com a mãe e a acompanha nas suas turnês pela Itália, Alemanha, Bélgica, Grécia, Franca, Inglaterra e Portugal. Foi nessa época que Nísia desbravou novos conhecimentos se relacionando com diversos escritores como Alexandre Herculano, Alexandre Dumas, Lamartine, Victor Hugo, Georg Sand, Manzon e Augusto Conte.


Ela voltou ao Brasil na década de 70, mas retorna para a Europa em 1875.


Em 1878 publica seu último trabalho “Fragments d’un ouvrage inédit: Notes biographiques”.


Os registros existentes dizem que ela após a viuvez dedicou-se a literatura, as viagens e a filha. Ela morava em Rouen na Franca, morreu de pneumonia em 24 de abril de 1885 e foi enterrada no cemitério local de Bonsecours, mas seus restos mortais retornaram ao Brasil em 1954 e foram depositados no mausoléu construído em sua homenagem próximo ao sitio Floresta, sua antiga residência.


Sua morte deixa uma lacuna na literatura, no ensino e nas mentes de todos os que admiravam seu trabalho e sua luta para que tivéssemos uma sociedade mais justa e igualitária, conferindo mais dignidade aos brasileiros, especialmente às mulheres. Sua luta não foi em vão, ela estará sempre presente entre nós.

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