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Grupo Vocal Entre Nós em "Morte e Vida Severina": clássico da literatura ganhou uma adaptação com composições autorais criadas por músicos do grupo
Há pouco mais de seis décadas, Severino saía do sertão do Recife na obra de João Cabral de Melo Neto (1920-1999), escritor pernambucano que transformou em poesia visceral a condição desse retirante nordestino - pelo viés de sua morte social e a miséria - no auto de Natal "Morte e Vida Severina". No caminho árduo retratado pelo escritor, na busca por uma vida melhor, o personagem encontra outros tantos nordestinos que também passam pelas privações impostas como a fome e a seca da caatinga. Agora, o poema dramático, no qual a persistência da vida se mostra como a única a maneira de vencer a morte, é a base para o espetáculo cênico-musical "Morte e Vida Severina", que o Grupo Vocal Entre Nós estreia na próxima quinta-feira (15), às 20h30, no Teatro Ouro Verde. O resultado é uma releitura que mostra a união entre música de canto coral, poesia e teatro do clássico literário escrito em 1955.
Neste projeto londrinense, o clássico da literatura ganhou uma adaptação com composições autorais criadas por músicos do grupo, assim como arranjos exclusivos para várias vozes de canções de Chico Buarque já conhecidas do público como "Funeral de um Lavrador" e "Mulher na Janela", além de "Todo o Céu e a Terra" e "De Sua Formosura", de Airton Barbosa. "Foi um trabalho que começou três anos atrás, quando encomendamos arranjos para canto coral feitas por nomes como Celso Branco, ex-integrante do grupo vocal "Garganta Profunda", e os londrinenses Fernando Magre e Paulo Vitor Poloni. Porém, no decorrer da montagem, os integrantes do grupo Flávio Collins, Bruno Bazé e Mariana Sella se debruçaram sobre o poema e criaram composições inéditas, cujas melodias são todas baseadas na letra da obra", explica a coordenadora e preparadora vocal Monique Kodama.
Devido à complexidade do trabalho, seja musical ou cênico, ela conta que o grupo está desde o início do ano trabalhando no projeto que, depois da estreia, vai circular por vários espaços públicos em 2019, ação possibilitada pelo Promic (Programa Municipal de Incentivo à Cultura). "No total, são 18 cenas em que os 14 integrantes cantam em coro e solos, tocam instrumentos melódicos, harmônicos e de percussão e, também, atuam narrando trechos do livro de Melo Neto", acrescenta a coordenadora, que é cofundadora do grupo surgido na UEL (Universidade Estadual de Londrina), em 2010, e há quatro anos realiza um trabalho independente. Três cenas já foram apresentadas, recentemente, em festivais, incluindo o Cantoriba 2018 (Festival Internacional de Corais de Curitiba), no qual o grupo foi vencedor na categoria Música Popular Avançado e prêmio geral, com a maior pontuação do concurso.
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No total, são 18 cenas em que os 14 integrantes cantam em coro e solos, tocam instrumentos melódicos, harmônicos e de percussão
Segundo Flávio Collins, integrante do grupo e responsável por várias das composições inéditas, a peculiaridade desta montagem do Grupo Vocal Entre Nós está na junção dos elementos do regionalismo brasileiro presentes nos ritmos, instrumentação e escalas tipicamente nordestinas representadas pelas vozes, rabeca, flauta, viola, violão, zabumba, triângulo caxixi e agogô. "Além disso, ao final do espetáculo, há a utilização de duas formas composicionais características da música sacra europeia: o "recitativo" (usado em cantatas e óperas) que prepara o último discurso da obra, e uma conclusão em "fuga" a quatro vozes, no qual o grupo assume o perfil de um autêntico coral", esmiúça ele, sobre o estilo do período barroco usado na música litúrgica.
Desafio cênico
O resultado da junção musical à cênica deste projeto é fruto da parceria com o diretor de teatro da Funcart (Fundação Cultura Artística de Londrina), Silvio Ribeiro, que é responsável por espetáculos anteriores do grupo como "Conversa de Botequim", "O Grande Circo Místico", "Entre Nós in Concert" e "Censurar Ninguém se Atreve". "Esta montagem, em especial, exigiu muito mais dos cantores, por ser um texto dramático e forte, diferente de tudo o que eles já haviam feito anteriormente. O desafio foi, então, alcançar esse ponto sem cair no caricato", detalha. Por meio dos versos falados e cantados, conforme o diretor, os integrantes do grupo transmitem o cenário que o personagem atravessa desde o agreste e a Zona da Mata, morrendo aos poucos pelo caminho. "A história é narrada pelo rio Capibaribe, que descreve as regiões por onde Severino passa e a realidade das pessoas. Este é um trabalho muito rico, que agrega diversas linguagens artísticas", ressalta.
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Espetáculo cênico-musical agrega várias linguagens artísticas
Morte e vida adaptada a outras linguagens
Desde que o livro foi lançado, em 1955, a obra Morte e Vida Severina foi adaptada em diversas outras linguagens, dentre elas, um longa-metragem de 1977 de mesmo nome, escrito e dirigido por Zelito Viana, que também utilizou o poema "Rio" do escritor pernambucano. Neste filme, os atores Tânia Alves, Stênio Garcia e Elba Ramalho contam, pelos versos, e cantam, pelas melodias de Chico Buarque e Airton Barbosa. No mesmo ano, toda a trilha sonora foi parar em disco LP, na produção de Discos Marcos Pereira e Mapa Filmes. Já em 1982, a história de Severino foi contada novamente em um teleteatro musical produzido pela TV Globo, dirigido por Walter Avancini. O musical, inclusive, aproveitou parte do elenco do filme de 1977. Já em 2010, a obra foi adaptada para os quadrinhos pelo cartunista Miguel Falcão e retratada em animação 3D, cujo desenho animado preservou o texto original ao longo de 55 minutos de duração.
Documentário
Há três anos, uma equipe da GloboNews partiu rumo a Pernambuco para refazer o trajeto imaginado pelo poeta no documentário "Morte e Vida Severina - 60 Anos Depois". Neste projeto, a equipe percorreu mais de mil quilômetros, ao longo de duas semanas, partindo do Sertão, passando pela Zona da Mata até finalmente chegar ao Recife, para ver o que havia mudado seis décadas depois. Os integrantes da equipe não tinham ideia do que encontrariam pela frente, nem mesmo o repórter Gerson Camarotti, o único que já conhecia a região, mas há 20 anos não passava por aquela estrada. Ele refez o percurso com a diretora Cristina Aragão, o produtor Murilo Salviano, o cinegrafista Sandiego Fernandes e o operador de áudio Edson Vander 'Simpson' para entrevistar mais de 40 pessoas que encontraram ao longo do caminho. "
Serviço:
"Morte e Vida Severina" com Grupo Vocal Entre Nós
Quando: 15 de novembro, às 20h30
Onde: Teatro Ouro Verde (rua Maranhão, 85)
Quanto: R$ 20,00 (inteira) e R$ 10,00 (meia-entrada)*
*Ingressos à venda na Funcart - av. Souza Naves, 2.380/ BRAVI Academia Orquestral - rua Prof. Samuel Moura, 507/ Thais Makeup - rua Maranhão, 344 - loja 10/ Teatro Ouro Verde - rua Maranhão, 85 no dia da estreia (15/11)
Fonte: <https://www.folhadelondrina.com.br/folha-2/a-vida-severa-que-mata-os-severinos-1020039.html>
Quer saber mais, leia:
<http://passageirodomundo.blogspot.com/2009/06/morte-e-vida-severina-analise-da.html>
<https://run.unl.pt/bitstream/10362/21872/1/GeanCarlos%20-Disserta%C3%A7%C3%A3o%20Final.pdf>
<http://www.sbpcnet.org.br/livro/63ra/conpeex/mestrado/trabalhos-mestrado/mestrado-glayce-rocha.pdf>
<https://medium.com/@herbsteralencar/morte-e-vida-severina-um-retrato-do-nordeste-brasileiro-6087fc85a97c>
<https://www.culturagenial.com/vida-e-morte-severina-de-joao-cabral-de-melo-neto/>