Desaparece um dos vultos maiores da cultura
portuguesa do século XX.
Valdemar Cruz
Morreu ao fim da manhã de hoje, aos 95 anos, Óscar
Lopes, um dos vultos maiores da cultura portuguesa do século XX. Homem de
múltiplos saberes e interesses, deixa uma obra tida como fundamental, sobretudo
na área da linguística.
Ensaísta e crítico literário, desenvolveu nas
páginas do matutino "Comércio do Porto", ao longo dos anos de 1950 e 1960, uma atividade
crítica tida como marcante e inovadora, pelo modo como, referiu ao expresso a
professora e ensaísta Isabel Pires de Lima, "soube dar uma nova atenção ao texto
literário". Naquela época, sublinha a ex-ministra da cultura, a crítica de
Óscar Lopes "é sempre muito corpo a corpo com o texto literário".
Óscar Luso de Freitas Lopes nasceu em Leça da
Palmeira, Matosinhos, no dia 2 de outubro de 1917. Licenciou-se em Filologia
Clássica pela Faculdade de Letras de Lisboa, frequentou o Curso de Ciências
Histórico Filosóficas em Coimbra e o Conservatório de Música do Porto. Foi
professor do ensino secundário e, entre 1974 e 1987, assumiu as funções de professor
catedrático da Faculdade de Letras da Universidade do Porto.
Embora fosse muitas vezes prioritariamente
apresentado como professor e crítico literário, a linguística era a área de
conhecimento que mais o fascinava. Teve aí trabalhos pioneiros, como a publicação,
nos anos de 1980, da "Gramática Simbólica do Português" No âmbito da
Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Óscar Lopes nunca deu aulas de
literatura e uma das primeiras cadeiras que lecionou, após a reintegração no
ensino a seguir ao 25 de abril de 1974, foi Linguística Matemática e
Computacional. Foi fundador e era o patrono do Centro de Linguística da UP.
Militante do Partido Comunista Português até á
morte, começou cedo a envolver-se nos movimentos oposicionistas à ditadura do
Estado Novo. Isso valeu-lhe duas prisões, o afastamento do ensino, a proibição
de se deslocar ao estrangeiro para participar em seminários para os quais era
convidado e, até, a apreensão de algumas das suas obras pela polícia política.
Foi um dos dinamizadores, nos anos de 1940, das
revistas "Seara Nova" e "Vértice".
Com António José Saraiva escreveu uma "História
da Literatura Portuguesa" que ajudou a formar gerações de portugueses.
Sucessivamente reeditada, a "História" foi alvo de intensa
correspondência entre os dois autores que, demasiado absorvidos pelos
diferentes trabalhos em que se envolviam, nunca chegaram a concretizar uma
desejada, por ambos, atualização e refrescamento de um livro que se tornou
referencial.
Um dos seus principais livros de ensaios no campo da
historiografia da literatura portuguesa é "Entre Fialho e Nemésio",
repartido em dois volumes, nos quais Óscar Lopes desenvolve intensas reflexões
com início na geração de 1890, até a geração da "Presença", já no
século XX.
O corpo de Óscar Lopes está na sede da Associação de
Jornalistas e Homens de Letras do Porto. Amanhã, entre as 15 horas e as 16h30
haverá uma cerimónia naquela associação, com várias intervenções, após o que
corpo seguirá para o cemitério de Matosinhos, onde será cremado."
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