0dete Soares Rangel
10
bons livros escritos na prisão. Esse é o título do artigo da Natasha. Adorei a
matéria, eu desconhecia que alguns deles haviam sido escritos na prisão. E
fiquei com muita vontade de ler todos para entender melhor o mecanismo da mente humana quando vive no
enclausuramento.
Ótima sugestão de leitura. No momento estou com dois livros para ler, presente ganho no dia dos namorados. Fernando Pessoa uma quase
autobiografia, e fazendo uma releitura de Macunaíma, uma das minhas grandes
paixões literárias. Sei que é muita ousadia, mas um dia, ainda penso fazer uma adaptação de Macunaíma para novela. A identidade cultural é muito forte nesse livro.
O encarceramento pode servir de gatilho para a criatividade, já que dentro da prisão, não se tem um leque grande de coisas pra fazer. Muitos bons livros foram escritos nesse contexto. Nessa lista em particular, listamos apenas alguns deles, escritos realmente de dentro de uma cadeia ou prisão. Confira:
1 – “Da prisão, para Althea”, Richard Lovelace
“As paredes de pedra não fazem uma prisão/Nem barras de ferro uma gaiola” (tradução livre). Essas são as linhas mais citadas do poema de Richard Lovelace, “To Althea, from prison”.
Richard Lovelace era um jovem cavaleiro inglês da guerra civil, classificado ao lado dos poetas metafísicos. Enviado para a prisão por apresentar uma petição de apoio a bispos pró-monarquistas, ele usou seu tempo encarcerado para compor seu poema mais famoso. Escrito para uma “amante” possivelmente ficcional, o poema expressa um tema comum a grande parte da literatura composta na prisão: que não se pode aprisionar o espírito humano. Apesar das paredes ao redor, ele podia imaginar sua amada, e assim termina o poema com os versos: “Se eu tenho liberdade no meu amor/E na minha alma sou livre/Anjos solitários, que sobem acima/Desfrutam dessa liberdade” (tradução livre).
Richard Lovelace era um jovem cavaleiro inglês da guerra civil, classificado ao lado dos poetas metafísicos. Enviado para a prisão por apresentar uma petição de apoio a bispos pró-monarquistas, ele usou seu tempo encarcerado para compor seu poema mais famoso. Escrito para uma “amante” possivelmente ficcional, o poema expressa um tema comum a grande parte da literatura composta na prisão: que não se pode aprisionar o espírito humano. Apesar das paredes ao redor, ele podia imaginar sua amada, e assim termina o poema com os versos: “Se eu tenho liberdade no meu amor/E na minha alma sou livre/Anjos solitários, que sobem acima/Desfrutam dessa liberdade” (tradução livre).
2 – “De Profundis” ou “A Balada do Cárcere de Reading”, Oscar Wilde
Enquanto Lovelace achou que o amor ia libertá-lo, para Wilde, foi o amor que o levou ao confinamento. Depois de uma série de acusações relativas às suas relações com Lord Alfred Douglas e outros homens, Wilde foi condenado por atentado violento ao pudor. Enquanto na prisão em Reading, Wilde compôs uma longa carta a Douglas que mais tarde foi publicada postumamente, como De Profundis. O livro começa com um balanço do relacionamento dos dois e como isso tem sido prejudicial para Wilde. O tom não é de acusação, mas autorrevelador. A carta, em seguida, volta-se para as realizações que a prisão forçou em Wilde. Ele termina com os seus planos para o futuro: “Eu me cansei das declarações articuladas dos homens e coisas. O Místico na Arte, a Mística na Vida, a Mística na Natureza, é isso que eu estou procurando. É absolutamente necessário que eu encontre isso em algum lugar” (tradução livre).
3 – “A História do Mundo”, Walter Raleigh
Sir Walter Raleigh (1552 ou 1554 – 1618) foi um explorador, espião, escritor e poeta britânico. Ele viveu na época das Grandes Navegações e da colonização da América, e não é exatamente comemorado por historiadores acadêmicos atuais, mas sua história inacabada do mundo é uma obra-prima. Raleigh traça a história do mundo desde a sua criação até a terceira guerra macedônica em 168 a.C. O livro serve para mostrar como a mente de um homem, embora o seu corpo seja mantido em cativeiro, pode viajar ao longo do tempo e do espaço. Raleigh nunca terminou o livro, mesmo tendo sido liberto, e mais tarde foi decapitado.
4 – “Tractatus Logico-Philosophicus”, Ludwig Wittgenstein
Ludwig Joseph Johann Wittgenstein (1889 – 1951) foi um filósofo austríaco naturalizado britânico, com contribuições nos campos da lógica, filosofia da linguagem, filosofia da matemática e filosofia da mente.
O único livro de filosofia que publicou em vida, no entanto, foi o Tractatus Logico-Philosophicus, de 1922. “O que não podemos falar, devemos passar em silêncio”, é o que ele sugere no Tractatus. É uma das obras mais influentes do século 20, mas pode exigir múltiplas leituras. Wittgenstein começou as notas para o Tractatus enquanto era um soldado da Primeira Guerra Mundial. Ele terminou o livro na prisão, capturado pelos Aliados no final da guerra. Parte da dificuldade em ler o Tractatus de Wittgenstein é seu estilo; ele usa declarações curtas e subcláusulas para expor os seus pontos de vista, ao invés de argumentos como estamos acostumados.
5 – “As Viagens de Marco Polo”, Rustichello de Pisa
Marco Polo deixou a Itália com seu pai e seu tio em 1271, e retornou em 1295. Durante esse tempo, viajou para o então pouco conhecido Extremo Oriente. No retorno à Itália, Polo foi capturado pelos genoveses e preso. Enquanto na prisão, ele relatou suas aventuras ao companheiro prisioneiro Rustichello de Pisa.
Este, por sua vez, escreveu o que ouviu e logo seu trabalho se propagou pela Europa. Reza a lenda que, por séculos, “As Viagens de Marco Polo” representava a melhor informação que o Ocidente tinha sobre a China. Enquanto algumas falas de Polo possam ser questionadas quanto à veracidade, certamente se provaram influentes. O contato com a China existiu antes dele (certamente no comércio da Roma antiga), mas foi com o livro que nasceu a disseminação da fascinação com o “exótico Oriente”.
Este, por sua vez, escreveu o que ouviu e logo seu trabalho se propagou pela Europa. Reza a lenda que, por séculos, “As Viagens de Marco Polo” representava a melhor informação que o Ocidente tinha sobre a China. Enquanto algumas falas de Polo possam ser questionadas quanto à veracidade, certamente se provaram influentes. O contato com a China existiu antes dele (certamente no comércio da Roma antiga), mas foi com o livro que nasceu a disseminação da fascinação com o “exótico Oriente”.
6 – “Cartas e papéis da prisão”, Dietrich Bonhoeffer
Bonhoeffer teve muitas chances de levar uma vida fácil. Ele nasceu no conforto da classe média de 1906 na Alemanha. Ele podia ter seguido a carreira de seu pai na medicina ou feito música. Em vez disso, Bonhoeffer estudou teologia e se tornou um pastor. Quando os nazistas tomaram o poder político na região, Bonhoeffer e outros clérigos liberais formaram a sua própria comunhão. Ele teve muitas chances de mudar para o exterior e evitar a perseguição, mas, após intenso debate interno, ele escolheu estar na Alemanha durante a guerra. Bonhoeffer foi preso em 1943 e mantido lá por apenas 23 dias antes do fim da guerra, quando foi enforcado. Durante sua prisão, Bonhoeffer escreveu muito, e esse conjunto de cartas e documentos é uma leitura que vale muito a pena, mesmo que você não seja o maior fã de detalhes da teologia cristã.
7 – “Carta de uma prisão em Birmingham”, Martin Luther King Jr
“Meus caros amigos clérigos: embora confinado aqui na prisão da cidade de Birmingham, me deparei com sua declaração recente chamando minhas atividades atuais de ‘imprudentes e inoportunas’. Raramente faço uma pausa para responder a críticas ao meu trabalho e ideias…” (tradução livre). Assim começou King seu trabalho na cadeia. E que bom que ele fez essa pausa para responder a seus críticos, porque a carta que escreveu da prisão, onde ficou detido por protestar sem permissão, é uma bela reivindicação aos direitos de todas as pessoas.
Bonhoeffer, como teólogo profundo, às vezes pode falar em termos cujo significado nos escapa. Mas a carta de King fala para todos, cristãos ou não.
King escreveu em resposta a uma publicação de oito clérigos locais, que pediam para os afro-americanos que pressionassem o seu caso pela igualdade de direitos através dos tribunais e não por manifestações. King responde estabelecendo calmamente todas as razões pelas quais é impossível que um homem de consciência permita que a injustiça continue. Este é o melhor documento para a compreensão da liderança de King. Se você estivesse subjugado por tal injustiça, seria capaz de enfrentá-la com razão, determinação e perdão?
O livro não é mais um apelo daqueles que sofrem discriminação pessoalmente; King deixa claro que todos devemos ser responsáveis por garantir os direitos dos outros. “A injustiça em qualquer lugar é uma ameaça à justiça em toda parte”.
8 – “Epístolas da Prisão”, Paulo
Paulo foi o primeiro e mais influente teólogo cristão. Ele era um “perseguidor” dos cristãos até ter um encontro com Jesus na estrada para Damasco; a partir de então, Paulo se tornou um dos defensores mais veementes do cristianismo. Suas cartas mostraram-se tão importantes para a teologia cristã que foram incorporadas ao Novo Testamento.
Enquanto Paulo estava espalhando a fé em Jesus como o Messias, ele causou descontentamento. Depois de um confronto em Jerusalém, Paulo foi preso. Lá, ele escreveu várias cartas importantes para comunidades cristãs. Suas cartas foram mais tarde extensamente lidas por Martin Luther e a teologia paulina se tornou uma força motriz por trás do cisma religioso entre católicos e protestantes.
9 – “A Morte de Artur”, Thomas Malory
Sir Thomas Malory (1405 — 1471) foi um romancista inglês. Seu livro “Le Morte d’Arthur” (A Morte de Artur) é um dos mais célebres contos sobre a história do rei Artur e dos Cavaleiros da Távola Redonda –e isso porque a Inglaterra tem uma rica história da mitologia arturiana que inspirou escritores durante centenas de anos.
Enquanto estava preso em Londres, Thomas Malory escreveu, usando fontes francesas, a versão mais famosa da lenda arturiana. Le Morte d’Arthur deu ao mundo algumas das melhores imagens conhecidas de Artur, como o ato de puxar a espada da pedra, e a Dama do Lago.
10 – “A Consolação pela Filosofia”, Boécio
Desde que foi publicado, esse trabalho tem sido influente. Traduzido do latim para o inglês por figuras como o rei Alfred e a Rainha Elizabeth I, o livro serve como um aviso para quem está no poder. Boécio estava no auge do poder em Roma, após o colapso do Império Ocidental. Infelizmente, ele entrou em choque com Teodorico, o Grande e foi preso. Esta súbita mudança de fortuna é o que o levou a escrever este diálogo filosófico entre ele e a “Deusa Filosofia”. Boécio se sente lesado por ter tudo “arrancado” dele.
A filosofia o leva a questionar se alguma coisa de tudo que ele “perdeu” tinha sido verdadeiramente sua, para começar. Filosofia pode não ser a leitura mais fácil do mundo, mas esse continua sendo um texto fundamental para a civilização ocidental.[Listverse]
A filosofia o leva a questionar se alguma coisa de tudo que ele “perdeu” tinha sido verdadeiramente sua, para começar. Filosofia pode não ser a leitura mais fácil do mundo, mas esse continua sendo um texto fundamental para a civilização ocidental.[Listverse]
Bônus: “Memórias do Cárcere”, Graciliano Ramos
O brasileiro Graciliano Ramos (1892 – 1953) foi um romancista, cronista, contista, jornalista, político e memorialista brasileiro do século XX. Apesar de sua obra mais conhecida ser “Vidas Secas” (1938), um dos seus melhores livros é “Memórias do Cárcere” (1953), escrito durante seu tempo na prisão e nunca concluído, faltando o capítulo final. Foi publicado postumamente em dois volumes.
Graciliano foi preso em 1936 por conta de seu envolvimento político, exagerado pelas autoridades por conta do “medo comunista” de 1935. No livro, Graciliano descreve variados acontecimentos ocorridos entre os presos políticos, como a entrega de Olga Benário para a Gestapo, as supostas sessões de tortura aplicadas a Rodolfo Ghioldi e o encontro com Epifrânio Guilhermino, único sujeito a assassinar um legalista no levante comunista do Rio Grande do Norte. Na obra, também dá importância ao sentimento de náusea causado pela imundície das cadeias, relatando ficar sem alimentação por vários dias por conta do nojo.