domingo, 28 de agosto de 2011

“Confidência do Itabirano” de Carlos Drumond de Andrade

Odete Soares Rangel
Alunosweb.com
Alguns anos vivi em Itabira.
Principalmente nasci em Itabira.
Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro.
Noventa por cento de ferro nas calçadas.
Oitenta por cento de ferro nas almas.
E esse alheamento do que na vida é porosidade e comunicação.

A vontade de amar, que me paralisa o trabalho,
vem de Itabira, de suas noites brancas, sem mulheres e        sem horizontes
E o hábito de sofrer, que tanto me diverte,
                                                   é doce herança itabirana.

De Itabira trouxe prendas diversas que ora te ofereço:
este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval;
este couro de anta, estendido no sofá da sala de visitas;
este orgulho, esta cabeça baixa...

Tive ouro, tive gado, tive fazendas.
Hoje sou funcionário público.
Itabira é apenas uma fotografia na parede.
Mas como dói!

Itabira é uma palavra indígena que quer dizer “pedra que brilha”. Itabira é um brilho agudo na memória do poeta. No espelho temporal da prosa e da poesia drumondiana, Itabira sempre ressurge, é a miragem do que ficou perdido na infância.

O poema começa com a nostalgia do poeta em relação ao seu local de nascimento, traçado em quatro belas, mas sofredoras estrofes. Eis a origem do seu poema autobiográfico em que ele fala da sua terra natal: Itabira.

Na frase “Noventa por cento de ferro nas calçadas” pode-se compreender como sendo o ferro do mineral que existia em abundância em Itabira; já em “Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro/Oitenta por cento de ferro nas almas” indicam temperamento, alguém muito rigoroso.

“De Itabira trouxe prendas diversas que ora te ofereço:” As prendas tanto podem significar o aspecto cultural o “São Benedito”, o “couro da anta”; quanto o aspecto existencial (o orgulho, a cabeça baixa).

“Tive ouro, tive gado, tive fazendas./Hoje sou funcionário público. Podemos inferir que ele foi uma pessoa rica e poderosa para quem outras pessoas trabalharam. Depois há uma inversão. Ele decai, passa a ser funcionário público e a trabalhar para o povo.

“Itabira é apenas uma fotografia na parede.” Ali imobilizada ela está intocável, se perdeu no tempo ou teria se mitificado “...como dói!”. Por certo foi doloroso abandoná-la, ela era sua história de vida. Lembremo-nos que ele após o incidente com o professor de português, mudou-se para Belo Horizonte com a família. De Itabira, vem a explicação de Drummond viver de “cabeça baixa” (estrofe 3, verso 6). Afinal, apesar das negatividades, o poeta sente uma incomensurável saudade de sua cidade natal.

Quer parecer que o minério que enriqueceu a cidade, embruteceu o homem, transformando-o num homem de ferro.

Também que lhe pesava a solidão, não tinha a quem amar, seu único divertimento era sofrer, mas era um doce sofrer porque lhe era imputado pela cidade que ele amava. Na estrofe 3, confessa que aprendeu a sofrer por causa de Itabira; mas, paradoxalmente: “A vontade de amar (...) vem de Itabira”. Parece válido dizer que o amor nasce e é servido no sofrimento.

Nesse auto-retrato evidenciam-se alguns traços da personalidade do poeta. Parece haver uma desesperança, o eu lírico se contém, fica indiferente e se resigna com o que lhe oferece a cidade, manifesta-se explosivo na última estrofe do poema.

7 comentários:

Anônimo disse...

Muito bom , ajudando sempre, vlwwww

Odete Rangel disse...

Obrigada por sua participação.
Abraço

Anônimo disse...

Obrigado pela análise.Me ajudou muito!

Odete Rangel disse...

Obrigada a você também pela visita ao blog e comentário. Que ótimo que lhe ajudou.

SE for do seu interesse, indique o blog a seus amigos.


Abraços,

Alexandre A. disse...

Perfeita analise, a história de Drummond me cativa.

Odete Rangel disse...

Bom dia a todos,

Obrigada Alexandre. A mim também.

Abraços,

Anônimo disse...

Oi gostaria de saber o verso em que o autor cita esse importante recurso natural e no que ele será transformado?

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