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quinta-feira, 12 de abril de 2012

Vida Obscura

Odete Soares Rangel


Ninguém sentiu o teu espasmo obscuro,
Ó ser humilde entre os humildes seres.
Embriagado, tonto dos prazeres,
O mundo para ti foi negro e duro.

Atravessaste num silêncio escuro
A vida presa a trágicos deveres
E chegaste ao saber de altos saberes
Tornando-te mais simples e mais puro.

Ninguém te viu o sentimento inquieto,
Magoado, oculto e aterrador, secreto,
Que o coração te apunhalou no mundo.

Mas eu que sempre te segui os passos
Sei que cruz infernal prendeu-te os braços
E o teu suspiro como foi profundo! 


Esse soneto de Cruz e Souza é quase um desespero, a aflição do eu poético se confunde com a do poeta, o ser está na obscuridade, mas não imune aos sofrimentos. O  embriagado tanto pode significar extasiado, quanto bêbado. Mas na primeira hipótese, nem mesmo esses prazeres fizeram a vida dele ser mais amena.

O silêncio escuro pode representar uma vida sombria, sem emoções, presa a tarefas difíceis,  parece que conquistar esse saber foi penoso, mas o tornou mais puro. Não é assim a nossa vida quando não temos objetivos definidos? Fica aquela agonia, aquela angústia que não sabemos de onde vem.

Essa obscuridade está presente na terceira estrofe. Ele sofreu no anonimato, ninguém percebeu seu sofrimento, tampouco o ajudou. Seu coração foi apunhalado por essa mágoa secreta, por essa falta de atenção, de amor.

Aí o poeta interfere no soneto, mostrando que sempre esteve presente, que compreende a dor do ser. O momento do suspiro profundo pode significar a libertação ou a morte do eu poético. Na última estrofe o poeta faz uma analogia com a crucificação de Cristo. 

Segundo os cristãos,  Jesus de Nazaré fora entregue pelos  judeus aos romanos para crucificação. Ele carregou a cruz até o local da execução, cujo trajeto público e penoso foi denominado de  Via Crucis. Ele fora pregado na Cruz.

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