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sexta-feira, 16 de março de 2012

A imprensa

Odete Soares Rangel


A lâmpada gigantesca
Das glórias do porvir, 
Turíbulo majestoso
No mundo a irradir, 
É a imprensa tesouro
E c'roa de verde louro
A fronte do escritor! 
E centelha sublimada
Que vem do céu arrojada
A treva dando fulgor!
-- O homem nasceu pequeno
Mas com as letras cresceu 
Foi como o vulto de Rodes 
Que lá tão alto s’ergueu!
Foi preciso -- estudando
Co’a própria idéia lutando
Mergulhar-se na luz! 
Foi preciso ter glória,
Brilhante, leda memória,
Colher renomes a flux!
Foi preciso mil lutas
Mil labores insanos
P'ra descobrir nesses mundos
Da diva luz os arcanos! 
Foi preciso que um bravo 
Não mostrando-se ignavo 
Mas inspirado por Deus! 
A pedra bruta talhasse
E a luz então derramasse
Qual seiva santa dos Céus!
Foi preciso os séculos
Ainda um pouco nas trevas 
Erguessem as frontes bem alto
E devastassem mil selvas!
Foi preciso que o mundo 
Sentisse abalo profundo 
Ao desvendar- se o saber! 
Foi preciso que os entes 
Ou se erguessem potentes 
Ou tombassem a morrer!
Mas não! -- o homem ergueu-se, 
Quase, quase com Deus
Tirou a fronte da treva
E só pregou-a nos 
Céus! Viu o futuro de louros
E quis colher os tesouros
Que dão renome sem fim! 
Sonhou, sonhou co’a vitória 
E o gládio teve da glória 
Qual o grão Bernardim!
O homem, gênio sublime, 
Caminha, com seu bordão 
Até achar o brilhante
A luz, a luz da razão!
Tropeça um pouco, se tomba
Ergue-se, voa qual pomba
E indo a luz descobrir, 
Busca ouvir no infinito
Do eco ao longe este grito: 
Trabalha para o porvir!
Quando os povos modernos, 
Sentirem no coração
Uma ardente centelha 
Que caia lá d'amplidão! 
Deixarão esses vícios,
Insanos, negros, fictícios
Que dão só noite ao viver! 
E irão curvados a ela 
Depor-lhe verde capela 
Farão então por crescer!
Camões, Milton, Abreu, 
Já da vida sem lampas,
Erguei-vos crânios altivos 
Espedaçai essas campas! 
Dizei -- se o homem caminha 
Se na treva definha
A quem se deve louvar?!... 
S’as letras seguem ovantes
Dizei ó nobres gigantes
A quem se ergue alcaçar?!!...
E Guttemberg esse herói,
Essa vergôntea dinal,
Que co'escopro na destra! 
Foi das letras fanal!
Ao descobrir a imprensa
Essa epopéia imensa
Para toda a nação,
Com glória ingente sonhava
Na luz por certo nadava
Já tinha os louros na mão!



(Cruz de Souza)
Fonte: www.dominiopublico.gov.br






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