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sábado, 14 de maio de 2011

O gato preto de Edgar Allan Poe

Odete Soares Rangel

O conto "O gato preto", de Edgar Allan Poe, discorre sobre um indivíduo que sente  carinho por animais, especialmente, por gatos. Sua mulher o apoiava e trazia  muitos animais para a casa, entre esses; estava o gato preto Pluto que se tornou o animal de estimação do marido.


Mas logo, ele entregou-se ao álcool fugindo dos problemas que o atormentavam. Com sua sanidade prejudicada pela bebida passou a odiar o gato, estabeleceu-se uma relação de ódio entre ambos. Certo dia, ele munido de seu canivete, arranca a órbita de um dos olhos do gato que se restabeleceu, irritando-o ainda mais. Certo dia, embriagado enforcou-o no galho de uma árvore.


Pode-se atribuir ao gato uma relação satânica, pois depois de ser enforcado pelo homem, ele volta para o mundo físico. Lembremo-nos que após ser enforcado, a casa pega fogo permacendo intacta apenas uma parede. Nessa, visualisa-se a imagem do gato com a marca da forca.  Mais tarde, o dono do Pluto encontra outro gato preto muito similar a Pluto. Talvez um outro pluto renasido, para vingar o crime contra o outro gato.


O homem tentou atacar o gato com uma machadinha, porém sua esposa impediu o golpe. Furioso com a intervenção desta, e tomado por uma fúria demoníaca, cravou-lhe a machadinha no cérebro, matando-a no mesmo instante. Agora precisava livrar-se do corpo. Abandonou a bebida, e dedicou-se a encobrir o crime emparedando a mulher, juntamente com o gato que também havia morrido. Por fim, numa investigação policial na casa, quando os policiáis já estavam se retirando, acabaram despertados por um barulho, um uivo enome que acabou por revelar o crime.
 
No conto O gato preto, de Edgar Allan Poe, os conflitos enfrentados pelo personagem narrador estão centrados na  Afetividade X perversidade. Por ser uma pessoa afetuosa,  era ridicularizado e criticado por seus companheiros. Deixou-se dominar pelo álcool, transformando-se num homem mau, indiferente aos sentimentos dos outros. Passou a usar de violência contra sua esposa, e a maltratar os animais que ele adorava, a exceção de Pluto. Mais tarde, voltou-se, também, contra Pluto, matando-o. Para ele, as regras podiam ser violadas, em detrimento da prática do mal. Mal este que para ele significava um bem, pois o que lhe causava infortúnio era eliminado. Durante longo tempo não conseguiu livrar-se do fantasma do animal, parecia ter remorsos, embora negasse essa aflição de consciência.

Conflitado pelas suas atrocidades com o gato, procurou outro animal de forma a compensar o que havia feito e livrar-se da culpa. Entretanto, passou a odiar o segundo gato, sentimento contrário ao que ele esperava nutrir pelo animal. Começou a viver atormentado, maus pensamentos eram seus únicos companheiros. Passou a odiar todas as coisas e a humanidade.
O narrador relembra acontecimentos do seu passado. Ele narra suas desventuras pela  necessidade de aliviar seu espírito, ou seja livrar-se dos remorsos de suas atrocidades. Narrando os acontecimentos domésticos – classificados de SIMPLES - mas que o aterrorizavam, torturavam e o destruíam, causando profundo horror, ele poderia morrer em paz. Esperava, inclusive, que um dia alguém pudesse considerar esses acontecimentos naturais. Ele encontra-se na cadeia. Talvez essa narrativa objetivasse satisfazer uma necessidade do prisioneiro de delatar fatos idênticos (torturas -maus tratos-violência) vivenciados na cadeia, e que se assemelhavam ao caso do Gato. Ele poderia estar sofrendo como o gato. Teria medo de morrer da mesma forma que o animal.

Há uma relação entre o primeiro e segundo gato. Pluto era perseguido pelo narrador, enquanto que o segundo animal perseguia o narrador e o venceu. Sentimentalmente, o narrador esperava que o segundo gato substituísse o primeiro. Ambos, eram semelhantes em tudo, exceto na mancha larga e branca que o primeiro possuía. Observa-se, no texto, um traço marcante que é a inteligência dos animais, explícito nos termos “...de espantosa sagacidade”, “achava-se pousado o animal odioso, cuja astúcia me levou ao assassínio...”
É como se o narrador fosse dominado pelo animal.


Observa-se que como Pluto, o segundo gato também fora privado de um dos olhos. O narrador comete as atrocidades contra o gato preto para fazer o mal pelo próprio mal. As expressões “Enforquei-o porque ele me amara e reconhecia que não me dera motivo algum para que me voltasse contra ele... porque sabia que estava cometendo um pecado mortal que comprometia minha alma imortal...” demonstram que suas ações eram regidas por uma força superior que ele não compreendia, assim como pelo efeito do alcoolismo. Ele não queria dar cabo a elas, mas as fazia, não tinha consciência dos seus atos. Ele e o gato se amavam, depois se sentia rejeitado por Pluto. Assim, ele praticava violências contra o animal, para rejeitá-lo também.

Ele se sentia tranquilo em relação a morte da mulher. Embora com o peso do assassinato sobre sua alma, dormira tranqüilo e profundamente, pois estava satisfeito com o sucesso do seu plano em relação ao sumiço do corpo, e a não presença do gato e da mulher. Não se inquietava frente à culpa da ação tenebrosa por ele praticada.

No início do conto, o narrador fala da superstição de sua mulher quanto à relação do gato preto com a bruxaria. O conto é sobrenatural,  “...à antiga crença popular de que todos os gatos pretos são feiticeiras disfarçadas”. Segundo um dicionário de símbolos, o gato preto é um animal relacionado as trevas, preto seria a cor dos soberanos do mundo subterrâneo, dos deuses dos mortos e do demônio na crença popular cristã. Ele também pode matar  mulheres, tomando-lhes a forma, simbolizando a obscuridade e a morte. Entretanto, tal narrativa, não possui embasamento em leis naturais, excede as forças da natureza, trata-se de crendice popular. Aparecem indícios de sobrenatural nos itens:

1. a parede não destruída pelo fogo, gravada em baixo-relevo sobre a superfície branca, a figura de um gato gigantesco.

2. A corda no pescoço do animal. A imagem da forca.

3. Um uivo, um grito agudo, metade de horror, metade de triunfo.

4. Doze braços vigorosos atacaram a parede, que caiu por terra.

Talvez pudesse ser considerado natural até o momento em que inicia falar do enforcamento do gato, pois a partir daí observa-se o domínio sobre o homem, de uma força superior da qual ele não tem consciência, nem poder para derrotá-la. Pode-se concluir que o gato instiga as ações demoníacas do homem, leva-o a cometer os crimes para depois delatá-lo.


Você pode ler o conto e mais sobre ele, nos links a seguir:
http://literatura-edir.blogspot.com/2009/02/o-gato-preto-edgar-allan-poe.html
http://revistaescola.abril.com.br/lingua-portuguesa/pratica-pedagogica/literatura-escola-7o-ano-contos-edgar-allan-poe-558932.shtml

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