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sexta-feira, 18 de junho de 2010

Saramago não morreu!

Odete Soares Rangel


O menino José de Souza Saramago nasceu em 16 de Novembro de 1922, na cidade de Azinhaga, Santarém, Portugal. 

Ao longo da vida tornou-se um dos maiores escritores da literatura portuguesa (poeta, romancista,  dramaturgo e contista), foi sucesso no mundo inteiro. 

Sua obra nos traz grandes ensinamentos, como ter um olhar holístico sobre o que está ao alcance da nossa visão, e acontecendo no mundo. Sua obra vai ser sempre atual, por exemplo, o Ensaio sobre a cegueira, traz questões bastante relevantes e contemporâneas, como: as situações nos presídios, a corrupção, a violência, a humanidade de uma dona de casa na acolhida aos cegos, etc. Saramago costumava dizer que essa obra era muito violenta e que queria que o leitor, ao lê-la, sofresse tanto quanto ele enquanto a escrevia. Creio que todos os que leram o livro sofreram sim; mas também aprenderam, despertaram para a cegueira cotidiana que impede seu desenvolvimento e evolução. O romance deixa bem evidente que cego não é o que não enxerga, mas aquele que não quer ver. Nos faz refletir de quão passivos somos frente a situações e pessoas; não os percebemos, nem lhes damos a atenção e o reconhecimento que merecem.

A obra de Saramago tem um valor inestimável, e será lida por todas as gerações. O mundo perdeu um intelectual que defendeu suas convicções com coragem e coerência. Com sua saída de cena, perde a cultura, perde a literatura, perde a educação e perdemos todos nós que soubemos olhar sua obra com os olhos do coração, e interpretá-la com a alma.

José Saramago morreu em Tías, Las Palmas, Espanha, na data de 18 de Junho de 2010, aos 87 anos por complicações respiratórias. Aliás, ele não morre, seu espírito repousa, seu corpo adormece e sua palavra fica eternizada em suas obras. A seguir transcrevo sua poesia Na Ilha por Vezes Habitada como homenagem a esse grande escritor, o qual considero um expoente impar da literatura portuguesa.

Na Ilha por Vezes Habitada

Na ilha por vezes habitada do que somos, há noites, manhãs e madrugadas em que não precisamos de morrer.
Então sabemos tudo do que foi e será.
O mundo aparece explicado definitivamente e entra em nós uma grande serenidade, e dizem-se as palavras que a significam.
Levantamos um punhado de terra e apertamo-la nas mãos.
Com doçura.
Aí se contém toda a verdade suportável: o contorno, vontade e os limites.
Podemos então dizer que somos livres, com a paz e o sorriso de quem se reconhece e viajou à roda do mundo infatigável, porque mordeu a alma até aos ossos dela.
Libertemos devagar a terra onde acontecem milagres como a água, a pedra e a raiz.
Cada um de nós é por enquanto a vida.
Isso nos baste.

Produção de Saramago


Romances
Terras do Pecado (1947)
Manual de Pintura e Caligrafia (1977)
Levantado do chão (1980)
Memorial do Convento (1982)
O Ano da Morte de Ricardo Reis (1984)
A Jangada de Pedra (1986)
História do Cerco de Lisboa (1989)
O Evangelho Segundo Jesus Cristo (1991)
Ensaio Sobre a Cegueira (1995)
A bagagem do viajante (1996)
Cadernos de Lanzarote (1997)
Todos os Nomes (1997)
A Caverna (2000)
O Homem Duplicado (2002)
Ensaio Sobre a Lucidez (2004)
As Intermitências da Morte (2005)
As pequenas memórias (2006)
A Viagem do Elefante (2008)
Caim (2009)

Poemas
Os Poemas Possíveis (1966)
Provavelmente Alegria (1970)
O Ano de 1993 (1975)

Poesias Existenciais
Palma com palma
Na Ilha por Vezes Habitada

Peças teatrais
A Noite (1979)
Que Farei com Este Livro? (1980)
A Segunda Vida de Francisco de Assis (1987)
In Nomine Dei (1993)
Don Giovanni ou O Dissoluto Absolvido (2005)

Contos
Objeto Quase (1978)
Poética dos Cinco Sentidos - O Ouvido (1979)
O Conto da Ilha Desconhecida (1997)

Crônicas
Deste Mundo e do Outro (1971)
A Bagagem do Viajante (1973)
As Opiniões que o DL Teve (1974)
Os Apontamentos (1976)
Viagens a Portugal (1981)

Diário e Memórias
Cadernos de Lanzarote (I-V) (1994)
As Pequenas Memórias (2006)

Infantil
A Maior Flor do Mundo (2001)

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